Quando o Inverno se
instala, só é possível chegar a São Miguel de avião. Depois, começamos
facilmente a percorrer as ruas de Ponta Delgada pelos próprios meios, usando os
pés à velocidade do tempo que mais nos aprouver. É impossível passear por terra micaelense sem visitar o jardim António Borges e, se conseguirmos visitá-lo com
uma visita guiada tanto melhor. Foi isso que aconteceu com a disponibilidade do
funcionário Paulino, que teve o condão, a gentileza de mostrar árvore a árvore,
recanto a recanto, tendo começado logo por apresentar o criador e desenhador
daquele espaço - o paisagista, António Borges, erigido em busto à entrada,
apercebendo-nos de imediato desse seu entusiasmo em reunir diversas espécies em cerca
de 2,5 hectares, mesmo no centro da cidade insular. De imediato, a atenção
foca-se numa “Phicus Macrophyla”- normalmente apelidada por Figueira
Australiana, ostentando várias raízes externas como se fossem rugas salientes a
marcar a passagem do tempo e da velhice. O Jardim António Borges é a imagem de
marca do romantismo pitoresco do séc. XIX, tendo sido concretizado entre 1858 e
1861, passando para o domínio público na segunda metade do séc. XX, mais
concretamente a 11 de Setembro de 1957. O responsável pela introdução deste
riquíssimo e vasto património arbóreo, verdadeiro amante de botânica, dedicou
uma boa parte da sua vida à preservação destas espécies, exóticas na ilha. Todo
o espaço do jardim é um encantado passeio pela diversidade e variedade, onde
podemos encontrar a Palmeira das Canárias, a Araucária Colunária,
o Eucalipto-Limão, Jacarandá, Maciço de Bambu, etc.
Depois de visitarmos aquela floresta encantada, e, continuando o percurso pedonal em redor
da cidade insular, é agora tempo de visitar o Coliseu Micaelense, representante
centenário da monumentalidade da época em que foi erigido, contém também um
pólo museológico, possibilitando assim o acesso ao seu acervo histórico que
data de 1912. Actualmente acolhe peças teatrais e concertos musicais, sendo a
maior sala de espetáculos do arquipélago açoriano. Segue-se o périplo em direcção ao
Teatro Micaelense, espaço destacado da vida social e cultural da urbe insular,
com a apresentação pública em 1951, obtendo um projecto de requalificação no
ano de 2004. Outro lugar de interesse histórico, desta feita de cariz
religioso, é a sinagoga "Sahar Hassamain”, recentemente aberta ao público,
após tantos anos encerrada. Trata-se da mais antiga sinagoga portuguesa,
situada na rua do Brum, nº16, a sua recuperação tem sido feita de forma gradual e
consistente, no sentido de manter no seu interior os traços, os sinais e as
memórias da passagem da cultura hebraica pelas ilhas. De seguida, ainda antes
que a noite caia, é necessário frequentar a Galeria Fonseca e Macedo, criada no
ano de 2000 e com o propósito de servir a arte contemporânea. Neste momento, a
galeria pede-nos para convocar o olhar no caleidoscópio de imagens/pinturas de
Miguel Branco, um autor fascinado com a paisagem e fauna das ilhas,
evidenciando a sua atenção e sensibilidade para uma síntese de pequenos quadros
intitulados de “Ínsula”.
Por último, para terminar este calcorrear
escorreito pelas artérias da cidade, conviria visitar a rua de Pedro Homem e a
galeria…Miolo. É um novo ponto de paragem e observação na rua de Pedro Homem,
no centro histórico de Ponta Delgada. Segundo reza a história, Pedro Homem foi
escrivão do Ouvidor do rei D. João III, viveu e morreu por ali,
caracterizando-se por possuir capacete ou adaga e terá sido o introdutor de
várias aves - falcões, cisnes e milhafres - na Ilha de São Miguel. A nova
galeria que passa agora a existir no número 45 desta rua pretende ser, cinco
séculos depois, mais um ex-libris de forte atracção e interesse, não só
histórico, mas também cultural e turístico. E porquê? É que nesta rua já existe
o restaurante vegetariano “Rotas”, o "Hostel The Nook", o Bed and
Breakfast “By Lapsa” e, para além de tudo isto, há também um cabeleireiro, um
dentista e uma farmácia na esquina.