O concerto Medeiros/Lucas é hoje
à noite no Teatro Faialense. O mar está bravo, encrespado, com muita ondulação.
Assim tinha que ser, não há marés ou correntes que acalmem esta agitação. A
tripulação já se encontra no cais para entrar no Navio e começar a viagem. E que viagem. Foi há
praticamente três anos que assistimos ao concerto do Experimentar Na M´incomoda neste mesmo teatro e, em que Carlinhos
Medeiros e Pedro Lucas protagonizaram um dos mais belos momentos dessa noite, ao
cantar sob a forma de duo o tema “Rema”, despedindo-se assim do público de
forma triunfal, numa noite gloriosa e inesquecível. Que bom que exista
música em que possamos cantar em conjunto, música de pertença emocional e, que
durante uma hora de concerto, nos possamos reunir e aliar a este tão belo mosaico sonoro que nos é oferecido.
sexta-feira, 27 de março de 2015
Tochapestana: o passado imita-os!
O último concerto
desta primeira edição do Múma-Música em Março foi com o duo Tocha/Pestana. A Associação
Cultural Música Vadia, com a co-produção do FAZENDO, despediu-se do festival
com um balanço assaz positivo sobre aquilo que se passou nestas últimas quatro
semanas. Durante estas sessões musicais na sede do Sporting foi possível assistir
a dois concertos de “one man show” e
os outros dois por duos musicais, por sinal, dinâmicos e bem divertidos. O público
faialense aderiu a esta proposta da Música Vadia e, com maior ou menor
afluência, manifestou atitude e curiosidade em participar neste evento.
O duo
Tocha/Pestana deu, portanto, o seu primeiro concerto em território insular,
naquele que foi uma autêntica surpresa para o público açoriano que quis estar
presente em mais um concerto do Múma, pois nunca se tinha visto nada assim por
estas bandas, melhor, provavelmente já vimos mas não queríamos acreditar.
A banda apresentou-se
em palco com uma componente visual próxima da feira popular, arraial festivo ou
baile nocturno no final de romaria religiosa em dia de santos populares.
Tochapestana trouxeram sons e música para um futuro nunca visto, fazendo de
súbito uma declaração de interesses ao abrir a performance com a máxima:“o passado imita-nos”. Os músicos
estavam, portanto, inquietos para dar o seu show cómico-cósmico, vestidos a
rigor, ambos de óculos escuros como quem tinha acabado de sair de um desfile de
Entrudo, com uma indumentária justa, a condizer com um cenário algo passadista,
pronto para evidenciar uma música eléctrica e dinâmica em universo que de tão próximo,
era muito difícil de catalogar.
Deste
modo, o duo alinhou, para este seu primeiro concerto em terras açorianas, canções
do primeiro álbum -“Música Moderna”, um
disco composto por 13 faixas (11 canções e 2 interlúdios), gravado no estúdio
“Arroios Music Machine”, entre Outubro e Novembro de 2013 e misturado até Março
de 2014. Começaram pelo interlúdio “Balada 24” e de seguida Tocha explodiu de
energia com a canção “Gasolina”,
cabendo este tema de situar o público no carrossel musical que se seguiria. A
estranheza de “Tara” e a vigorosa extravagância sonora de “Lírico” foram
suficientes para aquecer e ganhar mais força e simplicidade lírica, alguns
momentos depois, com o tema-hino intitulado de “Lisboa”. São raros os casos
conhecidos cantados em português que nos remetam de forma tão imediata para um
lugar de pertença emocional, como é o caso deste hino à capital portuguesa.
Parabéns à dupla por esta canção de amor citadino, que ganharia outra expressão
e público com a chegada do tema “Pratica a tua Fé”, já com a assistência
rendida e com sinais de arraial
montado. Seguiu-se o tema forte “Macho Masoquista”, provocando alguns risos e
lágrimas, dado o enfoque na posição do instrumento, retomando o humor e a
provocação com uma “canção de intervenção” intitulada “Plástico”, próxima dos
manifestos ecologistas contemporâneos. Houve ainda tempo para uma versão do
single de 1980 da cantora portuguesa Dina, o “Pássaro Doido”, em plena
nostalgia evocativa. Ainda a fechar os sessenta minutos de concerto, tempo para
o tema “Baila Comigo”, em refrão
romântico e com o cantor no exercício e exaltação da sua própria voz. O público atónito cedia finalmente ao
homem e ao seu teclado com guitarra e ia clamando por outro homem e a sua voz. O
espectáculo chegaria ao fim, sacudindo por instantes os inúmeros incrédulos que
tiveram receio de se entregar a esta música directa, popular e intensa. Para o
regresso ao palco, o duo Tochapestana cantou novamente “Pratica a tua Fé”, numa
evocação à marinhagem que frequentava o Cais do Sodré sete dias por semana,
naquele roteiro de bares com nomes de capitais e países. A dupla regressou, por
fim, ao palco para agradecer e despedir-se do público, por sinal, questionando
a possibilidade de assistir a novo concerto do duo.
Algumas
horas antes, o duo musical explicou que apreciam imenso fazer este tipo de
música, próxima do “tudo é possível, nada está excluído”, focados que estão na
exibição e transmissão durante o espectáculo de uma determinada energia. Os
músicos referiram que não se têm cansado de “tochapestanar”
pelo país inteiro, com prestações musicais em discotecas, bailes,
colectividades ou agremiações culturais. Sobre a composição dos temas,
TochaPestana recorre à guitarra e ao sintetizador, socorrendo-se de uma
panóplia variada de beats e efeitos vários, como se pôde ver em “Macho
Masoquista”. As letras, muito simples, roçam o minimal e a repetição, sempre
apostadas em refrões fáceis ao ouvido e propícias ao trautear de canções em
uníssono. Desta feita, não poderia ter sido melhor a escolha deste duo para
fechar os concertos deste Múma, apropriado ao espaço do Sporting e
proporcionando um serão vivo e alegre, muito por iniciativa e vontade de da
interagir com público, preconizado pelo vocalista Tocha.
Por
último, uma nota muito positiva para a Associação Cultural Música Vadia pela iniciativa
e pela capacidade organizativa evidenciada. O evento decorreu de forma
superlativa, tendo ficado no ar a promessa de uma futura edição, já no próximo
ano. Um merecido encómio à direcção do Sporting da Horta que está, também ela,
de parabéns pela abertura e disponibilidade por demais demonstrada.
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