"Tinha cinco anos. Era a
primeira vez que nadava sozinho dentro dele. Eu. Dentro do mar. E ele. O mar:
acolhia-me. Um abraço quente. E carinhoso. Estava tão contente eu. Tinha cinco
anos. E depois. Eu mijei dentro do mar. Com todo o meu ser mijei dentro dele.
Tudo estava tranquilo. À minha volta. Dentro de mim...que já perdi tantas
memórias. Demasiadas. Mas ainda me lembro de quando tinha cinco anos. Eu.
Estava a nadar pela primeira vez sozinho
dentro do abraço quente do mar em agosto. E mijei dentro dele, eu. Enquanto
ele, o mar, nunca me pediu nada em troca, nem perguntou porquê, só o seu murmúrio
sedutor e leve, as ondas delicadas, às vezes suspensas às vezes rebentadas, que
murmuravam languidamente ao meu ouvido de miúdo: mija...mija…mija"
in "A Terra Vista do Mar", Davide Enia,
tradução de Letízia Russo.