Porto São Bento é o desejo de
teatro na verdadeira acepção da palavra, a sua mais carnal vontade, o seu rito
colectivo de afirmar a voz e o corpo no palco, a realidade crua e sem fingimentos, a polis em palco. Cá fora há uma nova cidade que pulsa, regurgita e
se agita, apesar da crise, mal-grado o medo, muito para lá da economia, do
desemprego e da depressão. Eis-nos dentro do Teatro Carlos Alberto para ver Porto
São Bento e ver que o trânsito existencial é plural, reflexo da coralidade, da
polifonia, muito embora cada um fale na primeira pessoa, é-nos permitido viajar até
ao interior do Porto com história e com estórias de gente com carne e osso e que
julgam (des)esperar nas estações de metro. No fundo, pessoas como nós que nascem,
crescem e morrem na cidade do rio douro, da foz, da francesinha e do granito. Daí a topografia
não ficar circunscrita às estações de metro, mas sim a tudo aquilo que se
inscreve no corpo de cada um e na cidade, convocando para isso o outro e o
desejo de teatro, sendo que estamos na presença de actores profissionais e não
profissionais. É que ao contrário das estações de metro o teatro pode ser também isto:
encontro, partilha e reflexão.