Para quem fez Erasmus na cidade
grega de Salónica há muitos anos, hoje é dia de celebrar a ideia da Europa. A
Europa é uma ideia instigante para comemorar e preparar o futuro. À altura, foi uma experiência única,
irrepetível e vivida de forma intensa que ultrapassou o espaço das
aprendizagens e trocas universitárias ou mesmo o programa de estudos ali existente,
pois houve saberes e competências subtis que não se cingiram à área de estudos académicos. Por isso,
aprenderam-se outras línguas, viajou-se bastante dentro e fora do país em que se
esteve, conheceram-se os hábitos, gostos e sabores alimentares de um país diferente
do nosso, contactou-se com a história e a cultura daquele país de acolhimento, a tal
ponto que se fizeram amizades que perduram ao longo da vida. O projecto
Erasmus pode ser dado como uma boa garantia do melhor que a União Europeia logrou e soube criar neste espaço comum a que todos temos direito. Passaram-se muitos anos e, há,
evidentemente, muitas dúvidas e perplexidades do rumo que está a ser traçado. A União Europeia nem sempre é
coesa, tolerante ou mesmo revele, por vezes, falhas na solidariedade e respeito por algumas das suas democracias ou até mesmo no ritmo de alguns membros da união. Por isso, evocar hoje o programa Erasmus é a garantia e apreço do que poderá ser a identidade
europeia no futuro: tolerante, aberta e
plural. Que haja sempre Europa!
sábado, 9 de maio de 2020
Chamo-te porque tudo está ainda no princípio
Chamo-te porque tudo está
ainda no princípio
Sophia de Mello Breyner Andresen
E suportar é o tempo mais
comprido.
Peço-te que venhas e me
dês a liberdade,
Que um só dos teus
olhares me purifique e acabe.
Há muitas coisas que eu
quero ver.
Peço-te que sejas o
presente.
Peço-te que inundes tudo.
E que o teu reino antes
do tempo venha.
E se derrame sobre a
Terra
Em Primavera feroz precipitado.
Sophia de Mello Breyner Andresen
A Morte da Água
“Um dos passeios que mais gosto de dar é ir
a Esposende ver desaguar o Cávado. Existe lá um bar apropriado para isso. Um
rio é a infância da água. As margens, o leito, tudo a protege. Na foz é que há
a aventura do mar largo. Acabou-se qualquer possível árvore genealógica,
visível no anel do dedo. Acabou-se mesmo qualquer passado. É o convívio com a
distância, com o incomensurável. É o anonimato. E a todo o momento há água que
se lança nessa aventura. Adeus margens verdejantes, adeus pontes, adeus peixes
conhecidos. Agora é o mar salgado, a aventura sem retorno, nem mesmo na maré
cheia. E é em Esposende que eu gosto de assistir, durante horas, a troco de uma
cerveja, à morte de um rio que envelheceu a romper pedras e plantas, que lutou,
que torneou obstáculos. Impossível voltar atrás. Agora é a morte. Ou a vida.”
Ruy Belo in “Todos os Poemas”.
Da Água
"Entrar na água, para mim, é como sentir um beijo em todo o corpo."
Jacques Yves Cousteau (1910-1997)
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