Ser português é como ser aborígene ou americano
Posso comer bacalhau com batatas a murro em qualquer lugar
Camões e Pessoa em todas as línguas tal como Rilke e
Confúcio
O Português só me une aos mortos da literatura
Vivo neste canto por uma questão de inércia climática
Nunca estou cá – isto já não é a cidade das igrejas e
quartéis
É um cenário intermitente onde vivo separadamente – vou ao
super
comprar chocolate belga e vinho chileno
Já não tenho inimigos nem sarracenos nem chinos como o Pinto
Nem os portugueses me incomodam mas classes de comportamentos
grosseiros em que não são os piores – Por isso vivo aqui
com os livros e discos iguais em toda a parte.
Nuno Félix da Costa in “O Desfazer das Coisas e as Coisas Desfeitas” in "Companhia das Ilhas" (2015)