Fotografia de Carlos Olyveira |
Começamos
a habituar-nos a Santa Clara, que belo cenário temos perante nós. Sortudos, pois
claro. Quando o tempo proporciona aproveitamos para ir a pé, caminhando lentamente
até à Galeria Arco 8 para assim absorver e aproximar-nos desta freguesia situada
na costa sul do concelho. É também uma forma simpática de cortejar o mar e a
paisagem circundante de tão colorida que é. É de facto um belo cenário este com
o casario novo e antigo feito à escala humana.
E
agora, que já nos encontramos a preparar cena a cena, a reescrever cada
alteração e marcação, quem sabe um dia não promoveremos com os habitantes desta
freguesia ensaios assistidos. Pode ser mais lá para a frente, perto da estreia e que
consigamos reunir gente deste lugar para assistir e trocarmos impressões com elas sobre aquilo que se
está a passar em palco. Neste ensaio de hoje demos conta que estamos na
presença de um texto teatral longo, o cronómetro aponta para uma hora e vinte, por essa razão debatemos em conjunto sobre as possibilidades de encurtar
alguns momentos.
Por
fim, temos tido a necessidade de discutir todo o processo e, por isso, o texto em causa mais parece um
trabalho contínuo. Sobretudo, porque este é deveras partilhado colectivamente, essencial para
encontrar o tom e o ritmo dos diálogos entre as personagens. O ensaio termina
com a atenção focada nas reais intenções contidas na personagem da actriz Margarida
Benevides (Mulher de Meia-Idade), que agora tem de encarnar uma mulher despojada de sonhos, dura, marcada por uma vida complicada e difícil. Por esse motivo, ela repete o texto exaustivamente e verifica a intencionalidade das suas falas. Há, portanto, que manter a chama do texto aceso,
há que tornar cúmplices as pessoas que partilharão daquele momento. O que pensarão as pessoas que assistem a esta cena intrigante? Citando
novamente David Ball: “Nenhum
strip-teaser ignora que o que mais excita o público não é a nudez em si mesma,
mas a promessa da nudez. A metade do prazer está na antecipação”. E,
porventura, é verdade!