domingo, 10 de julho de 2016

Sala de Embarque: Sétimo Ensaio

Fotografia de Carlos Olyveira
Começamos a habituar-nos a Santa Clara, que belo cenário temos perante nós. Sortudos, pois claro. Quando o tempo proporciona aproveitamos para ir a pé, caminhando lentamente até à Galeria Arco 8 para assim absorver e aproximar-nos desta freguesia situada na costa sul do concelho. É também uma forma simpática de cortejar o mar e a paisagem circundante de tão colorida que é. É de facto um belo cenário este com o casario novo e antigo feito à escala humana.
E agora, que já nos encontramos a preparar cena a cena, a reescrever cada alteração e marcação, quem sabe um dia não promoveremos com os habitantes desta freguesia ensaios assistidos. Pode ser mais lá para a frente, perto da estreia e que consigamos reunir gente deste lugar para assistir e trocarmos impressões com elas sobre aquilo que se está a passar em palco. Neste ensaio de hoje demos conta que estamos na presença de um texto teatral longo, o cronómetro aponta para uma hora e vinte, por essa razão debatemos em conjunto sobre as possibilidades de encurtar alguns momentos.
Por fim, temos tido a necessidade de discutir todo o processo e, por isso, o texto em causa mais parece um trabalho contínuo. Sobretudo, porque este é deveras partilhado colectivamente, essencial para encontrar o tom e o ritmo dos diálogos entre as personagens. O ensaio termina com a atenção focada nas reais intenções contidas na personagem da actriz Margarida Benevides (Mulher de Meia-Idade), que agora tem de encarnar uma mulher despojada de sonhos, dura, marcada por uma vida complicada e difícil. Por esse motivo, ela repete o texto exaustivamente e verifica a intencionalidade das suas falas. Há, portanto, que manter a chama do texto aceso, há que tornar cúmplices as pessoas que partilharão daquele momento. O que pensarão as pessoas que assistem a esta cena intrigante? Citando novamente David Ball: “Nenhum strip-teaser ignora que o que mais excita o público não é a nudez em si mesma, mas a promessa da nudez. A metade do prazer está na antecipação”. E, porventura, é verdade!

Benjamin Clementine: "I Won´t Complain"



“But I won't complain
No I won't complain
Though my good days are far gone
They will surely come back one morn
So I won't complain, no, no.”



Benjamin Clementine

Porto Formoso: Maré Cheia

Os sábados são dias especiais, sabem fazer parte da galeria secreta de momentos incondicionais. Por isso é que há sábados em que de repente o inesperado toma conta de nós e passa a ser tudo muito mais intenso. Mergulho na Praia dos Moinhos? Por que não? Com o dia enevoado, sem alterações há já algumas semanas em Ponta Delgada, surgiu essa hipótese com bons augúrios de visitar essa praia em Porto Formoso. E quando se trata da primeira vez de qualquer coisa é sempre peculiar e há que manter as expectativas bem altas.
A Praia dos Moinhos conhecida pelas suas areias finas situa-se numa escarpa, sendo necessário descer até ao areal para desfrutar de uma extensão espaçosa ainda que não conviria a presença de multidões. A temperatura de água quase nos 20º, num céu limpo de nuvens deixa espaço para uma demorada presença dentro de água. De seguida, esperava-nos uma sopa de peixe rica e variada, tal era a vontade de continuar a engolir o mar. Na realidade são longos pedaços de peixe numa sopa equilibrada com os elementos a condizer (cebola, pimento e alguns coentros e massa). A adesão à sopa foi logo na primeira degustação. Esperançosos de continuar a saborear as delícias oriundas do fundo do mar, com o pão sempre por perto, é assim que vão chegando as cracas – preço em conta e recheadas desse líquido marinho – para logo a seguir surgirem as lapas que não alcançam o ponto elevado da primeira iguaria mas ficaram registadas na memória. A refeição foi assim completa numa solidariedade salina nunca vista. O dono daquele bar/restaurante já tinha avisado, aqueles ingredientes são imbatíveis, e se não fosse tão longe, seria semanalmente imperdível. E o que é mais surpreendente é mais uma vez a simpatia, o cuidado, o acolhimento e a hospitalidade destas pessoas de Porto Formoso. Que lugar mágico, quase entramos no reino do indizível.
Permanecemos, é certo, prontos para recusar alguma coisa a não ser somente um café para despertar. Não vá a maré encher…

Do Desejo...

"Quando desejamos, pomo-nos à disposição de quem esperamos."
La Fontaine