Não sei exactamente de onde vem aquela voz, a origem daquele longevo eco, mas lembrei-me do sul. Lembrei-me ocasionalmente do flamenco, viajei também pelas ruas e becos de Alfama, Mouraria e Madragoa. Dei por mim a entrar nas casas de fados, a sentir o cheiro da mistura, da mestiçagem, a calcorreear os degraus e as pedras da calçada da cidade antiga. Apaixonei-me de novo pelas memórias olisiponenses e fui transportado de livre vontade para a desalmada mágoa, a paixão e vício do gosto de existir. Embalado por aquele gesto que, diga-se, julgo ser sido intenso e genuíno, rendi-me perante aquela postura e o timbre dolente daquele canto. Por instantes, o sul era um local palpável, tangível. E...era a voz de Ricardo Ribeiro que me servia de transporte.
domingo, 3 de dezembro de 2017
Agradecer Basta
“É
justo e de bom-tom agradecer algo que nos dão ou um serviço que nos prestam,
por mais insignificante que este seja. Pode ser uma convenção, mas não o é
apenas: representa sempre um gesto de cortesia e de civilidade que sela uma
espécie de pacto de entreajuda entre pessoas que se entendem e respeitam. E é
também o reconhecimento do esforço do outro. Sempre o fiz e continuo a fazer,
mas o inverso – agradecerem-me por aquilo que ofereço a alguém – tem vindo
ultimamente a ocorrer cada vez menos vezes, em especial com interlocutores que
detêm uma conceção utilitarista da vida social ou têm dos outros uma imagem
instrumental.”
Rui Bebiano, in A Terceira Noite, 17 de Novembro de 2017
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