domingo, 29 de dezembro de 2013

Caboverdeanar

Germano de Almeida (Foto Rui Maio)
"-Qual foi a reacção da sociedade cabo-verdiana à sátira implícita no "Testamento do Senhor Napumoceno"?
Germano de Almeida: Muito boa. As edições cabo-verdianas naquela altura rondavam os trezentos exemplares. Nós decidimos fazer uma edição de setecentos e cinquenta exemplares, não porque achássemos que iria vender, mas porque ficava praticamente pelo mesmo preço. Esgotou-se em três meses, o livro foi muito bem aceite. Foi um recorde, um best-seller de setecentos e cinquenta exemplares. Depois as pessoas começaram a insistir e fizemos novas edições, tendo sido feitas nove, das quais foram vendidos nove, dez mil exemplares em Cabo Verde.
-Este livro deu origem a um filme realizado por Francisco Manso que viria a vencer, em Agosto de 1997, o prémio de Cinema de Gramado. Como é que viu a transposição do romance para o ecrã?
G.A: Eu distingo sempre duas coisas: uma é a obra literária e outra é a obra cinematográfica. Isto é, eu não aceito a ideia de impor ao realizador fazer o meu filme. Porquê? Porque quando eu leio um livro faço um filme, do mesmo modo que outras pessoas fazem o seu filme. De maneira que quando ele vai realizar é o seu filme e não o meu filme. Daí que eu diga que há coisas no "Testamento..." que eu gostaria de ver tratadas de outra maneira eventualmente, mas não me permito sequer criticá-las porque é a minha forma de ver que não pode ser igual à forma do Manso e não posso obrigá-lo a fazer o filme que eu gostaria de fazer."
 Entrevista a Germano de Almeida, Fevereiro de 2003.

Filme, Cachupa, Mornas e Coladeiras na Galeria Arco 8

      Corre a história que nos idos anos oitenta que uma das músicas mais tocadas e escutadas na telefonia nacional era um tema dos cabo-verdianos “Tubarões” – “Avenida Marginal”. Os ouvidos portugueses começavam assim a receber o património imaterial de um arquipélago pouco ou nada aventurado pela queda de água nas suas ilhas, ou riqueza de outros recursos naturais, mas com uma cultura e sabedoria ancestral, símbolo da abnegação e persistência face às contrariedades inerentes às condições de vida em ilhas tão secas.
        Organizado pela CRESAÇOR e pela AGECTA decorreu ontem uma festa/actividade que teve por objectivo celebrar a cultura cabo-verdiana e manter viva a coesão entre uma pequena comunidade com mais de três centenas de habitantes e que há muito por aqui tem ofícios ligados ao mar, à construção, aos serviços ou ao comércio. O palco deste encontro foi a Galeria Arco 8 e o filme exibido foi “O Testamento do Senhor Napumoceno de Araújo”, rodado e realizado por Francisco Manso em  1996 nas Ilhas de São Vicente e Boavista, apresentado publicamente em sala em 1997 e  é baseado no romance homónimo do escritor oriundo da Ilha da Boavista: Germano de Almeida. Seguiu-se a cachupa da Senhora Arminda – "de comer e chorar por mais" – e outras iguarias confeccionadas para este momento até depois à audição e bailar de mornas, coladaderas e funaná sempre bem preenchidas pelos participantes com o ritmo desenvolvido aos pares e com coreografia bem ritmada e distâncias bem definidas. Cabo Verde é, portanto, nome de arquipélago mas também sinónimo de alma e de oferendas, o que resulta assim em acolhimento e agradecimento.