sábado, 11 de janeiro de 2014

NEPAL-A Verticalidade do Silêncio na Galeria Arco 8

     O  fotógrafo Pepe Brix, natural da Ilha de Santa Maria, nasceu em 1984 no seio de uma família com pergaminhos no mundo da fotografia. Recentemente viajou pela Índia e pelo Nepal acompanhado pela sua máquina fotográfica mais a sua determinação infinda de registar o que os seus olhos iam vendo e observando ao longo da viagem. Com o decorrer de tal empreitada foi descobrindo o aprumo dos gestos e do silêncio dos nepaleses, de tão magnificente geografia, bem como das suas paisagens e cultura. Pepe Brix apresenta agora as suas fotografias a preto e branco, patentes até ao dia 9 de Fevereiro na Galeria Arco 8. São imagens deste périplo nepalês com a entrega de quem viaja e a reciprocidade de quem recebe contando sempre com o particular ensejo de fixar os rostos e os olhares das gentes, do(s) modo(s) de vida à religião. O fotógrafo dá-nos a ler também os seus escritos bem como ainda o texto de apresentação desta exposição dedicada ao Nepal onde podemos ler que “o travo milenar da sua cultura confere ao país um núcleo magnético incrivelmente denso.”A abertura da exposição está marcada para as 22 horas da noite deste sábado.

Vânia Dilac: Cantora ou Diva?

         Vânia Dilac é diva das cantigas e das antigas pois tem o dom e a dádiva de encantar para quem tiver intenções de se deixar render e cativar pelo seu canto. Esta é, sem qualquer dúvida, uma voz desmedida, solta, com rédea livre de quem sabe que nada nem ninguém  pode travar aquele curso de águas cálidas que na sua voz habita na máxima energia e vitalidade. Por isso não lhe peçam grandes teorizações sobre os seus temas que interpreta – apenas que cante no auge da sua sinceridade vocal. Por mais que ela enfeitice com a sua voz este centro histórico da cidade de Ponta Delgada, em plena Travessa dos Artistas, com música sem muros nem ameias e, essencialmente, com o fervilhar da interpretação de temas de outros autores:“Blue Moon” de Frank Sinatra, “Fever”, de Peggy Lee, “Summertime”, de George Gershwin, “Sodade” de Cesária Évora ou “Halleluyah” de Leonard Cohen, é nos temas cantados em português que este ardente canto em tons de veludo ganha velocidade, espessura  e rumo. Acompanhada por Paulão (bateria) e Clayton (teclados) é, portanto, uma voz que propaga com rapidez  calor e chama neste Inverno frio e húmido. Ouvi-la a cantar Amália Rodrigues (“Barco Negro”), Paulo de Carvalho (“Mãe Negra”) ou Jorge Palma (“Frágil”) é acreditar que há um vulcão interior em ebulição pronto a expelir sons e trovas carregado dum eco feminino dolente e magoado, profundamente negro como a maioria das vozes da soul, a carimbar o timbre da sua alma africana. É de arrepiar quando  eleva a sua voz nas canções de Amália ou Jorge Palma,  naquele português misturado, modelado e mélico para de imediato lhe sentirmos a garra,  o enleio sonoro, o sentimento pujante em cada frase melódica. Uma pérola, evidentemente.
         Escutar Vânia Dilac é também um privilégio por podermos imaginar o quanto estará por vir já que aqui há qualquer coisa de vidro fino, delicado, um diamante em bruto por lapidar, e que é necessário preservar e cuidar enquanto ele irradia de fulgência e de brilho. A cantora  vive em São Miguel, bebe muita música soul e o blues num arquipélago que fica não muito longe do local de origem destes géneros musicais, sendo normal que  almeje voos mais altos ou  deseje cantar em outras paragens, palcos  e destinos. Entrementes, para uma cantora que absorve as águas cálidas da ilha há mais de trinta anos, ela nasceu em Moçambique, bem como sabe de cor e salteado as dores e as mágoas das nossas maiores cantoras que a precederam, bastava que cantasse e fizesse um disco pessoal com uma dezena de poetas ou cantores nesta língua que nos une para firmar e confirmar o seu talento neste tempo e espaço, o emergir de uma grande voz em território insular, tantos anos depois da fase de oiro das vozes femininas de 80/90 da música açoriana.