"Os consumos culturais transferiram-se em grande medida para o espaço doméstico, e este está cada vez mais equipado com tecnologia que disponibiliza as transmissões, desde logo televisivas, a públicos de todos os estratos sociais. O gosto é a marca da diferença perante o escândalo da democratização das imagens e sons. Por isso, as novas identidades foram determinadas pelos hábitos de consumo, que, de alguma forma, tornam culturais todas as dimensões do quotidiano. Tal como o povo camponês do início do século, o suburbano dos discursos do gosto não é uma categoria social, mas uma representação cultural. Do mesmo modo que um mundo rural pôde ser idealizado por intelectuais urbanos por causa da distância - entre a cidade e o campo, as letras e o analfabetismo - , o subúrbio contemporâneo não passa de um referente vazio, sem substância sociológica."
Luís Trindade in "O Século Português", Tinta da China Outubro de 2020.