sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Filmes de Ingmar Bergman nas salas

Ingmar Bergman, Sven Nyqvist, Erland Josephson e Liv Ullman
     A Leopardo Filmes promove em Janeiro um ciclo de filmes do realizador sueco Ingmar Bergman nas cidades de Lisboa (Nimas) e Porto (Teatro do Campo Alegre). O país e os portugueses, agora apelidados de “suecos do sul”, terão uma oportunidade sem par de conhecer a obra deste superior criador da sétima arte. Dez filmes restaurados e um total de dezassete obras do realizador para ver em tela e depois passar  os dias e as noites a falar sobre eles. Está lá tudo o que é possível pensar sobre a alma humana e ainda as suas mulheres, todas elas de uma beleza singular e expostas enquanto actrizes como só ele as soube filmar, e por isso adivinharam ser as personagens que ele quis nos papéis mais dolorosos, intensos e impenetráveis –“Mónica e o Desejo”, “A Sonata do Outono”, “Lágrimas e Suspiros”,“Máscara” entre outros. Que júbilo poder (re) ver Liv Ullmann, Anita Björk, Ingrid Thulin, Harriet Andersson, Bibi Anderson ou Ingrid Bergman em papéis tão diferentes e desiguais mas com a nítida sensação e alguma certeza ao constatar que o cinema deste sueco, malgrado o seu desaparecimento recente, continua a ser uma excelente poltrona para pensarmos a vida e o mundo.

Entrevista, poema de Mircea Dinescu.

Aqui no campo está tudo bem e bonito
os princípios envelheceram um pouco
mas o álcool medicinal passado pelo pão rejuvenesce
e o médico recomenda-o para "uso interno".
Aqui o adro da igreja foi devolvido à agricultura
o porco mastigou a criança esquecida no berço
(de qualquer modo um e outro eram do Estado)
em geral está tudo bem aqui no campo
os pequenos vêem televisão de caneca nas mãos talvez dê leite
na rádio acabámos há muito a colheita
e em breve a acabaremos nos campos
em geral está tudo bem aqui no campo temos betão é bonito
se comprares o ovo na city
se a fábrica de chouriço deixar de piscar
o olho aos cavalos.

Aqui no campo está tudo bem
os bombeiros em geral põem fogo às casas é bonito
o tractor abre entre uns e outros
entre uns e outros um sulco profundo
está tudo bem e bonito.

Mircea Dinescu,  poemas , 1950, tradução de Rosa Alice Branco