E também te
podem dizer
sê servil na
pátria dos outros
pois a tua
terra deixou-te nascer
somente para
a fome ou para que vivas
no chiqueiro
de um porco. Emigra e
volta da
pátria dos outros
sem palavras,
mas carregado de coisas
se, acaso
tiveres sorte, isto é,
se fores
suficientemente servil.
Podes depois
voltar
com alma de
alugel
abandonada que
foi a tua terra
para te
sujeitares ao trabalho que
te envergonharias
de fazer. E quando
regressares –
julgando que
regressar é
verbo que se conjuga -, vais
julgar-te um
herói, qualquer coisa,
só porque
andas com máquina de vídeo
choldreando por
todo o lado. Isto é
também a tua
pátria, a tua vida. E
não há cão
que
uive às
trevas da tua dor.
João Miguel Fernandes Jorge, in Antologia Açoriana, edição da Biblioteca Pública e Arquivo de Ponta Delgada, 2011.