segunda-feira, 13 de junho de 2016

Fitando a Proibida Azul Distância

Que guarde o mar o silêncio acerca dos filhos do meu nome à
frialdade das vagas convertidos
e que me me deixe  na ilha a limitar o tempo longo
a sonhar fracassos sombrias vidas e obscuridades. 

João Miguel Fernandes Jorge, in Antologia Açoriana, edição da Biblioteca Pública e Arquivo de Ponta Delgada, 2011.

As Trevas da Tua Dor

E também te podem dizer
sê servil na pátria dos outros
pois a tua terra deixou-te nascer
somente para a fome ou para que vivas
no chiqueiro de um porco. Emigra e
volta da pátria dos outros
sem palavras, mas carregado de coisas
se, acaso tiveres sorte, isto é,
se fores suficientemente servil.
Podes depois voltar
com alma de alugel
abandonada que foi a tua terra
para te sujeitares ao trabalho que
te envergonharias de fazer. E quando
regressares – julgando que
regressar é verbo que se conjuga -, vais
julgar-te um herói, qualquer coisa,
só porque andas com máquina de vídeo
choldreando por todo o lado. Isto é
também a tua pátria, a tua vida. E
não há cão que
uive às trevas da tua dor.

João Miguel Fernandes Jorge, in Antologia Açoriana, edição da Biblioteca Pública e Arquivo de Ponta Delgada, 2011.