sábado, 21 de dezembro de 2019

Sem Mar

Dizes-me:
nunca há mar nos teus poemas

Pois não. O mar que conheço é baço
e o que nunca vi é estranho
insondável como poço, afoga-nos num lento abraço

Dizes-me depois:
nunca há mar, mas há aldeias

Pois há. E há mulheres, há sempre mulheres.
Umas a chegar, outras a partir.
Gosto de encontros, gosto de despedidas - Há sempre mulheres,
                                                                     (algumas despidas
Não me atrai as ondas 
o modo magnético de nos prenderem o olhar.
Prefiro-o à solta pelas aldeias 
é que tudo que há nelas me dá ideias
mesmo um triste poço, mesmo um monte baço

João Habitualmente, in "Um dia tudo isto e será meu (uma antologia)", Porto Editora, 2019.