segunda-feira, 4 de março de 2013

Alexandre O´Neill por António Tabuchi

Fotografia de Alexandre Delgado O´Neill


          "Quando conheci o Alexandre na Rua da Saudade em sua casa, ele ia jantar. Eu reparei que ele tinha posto a mesa com tudo elegante para si próprio. Ele tinha preparado um jantar com uma lata de sardinhas dentro do prato. Levantou-se, cumprimentou-me e disse-me: “Sente-se, quer comer umas sardinhas decapitadas?”. Às vezes com uma primeira fase pode-se perceber uma pessoa. Eu e o Alexandre ficámos amigos a partir daquela frase. O que eu gostava no Alexandre era a extrema liberdade intelectual que ele tinha. Liberdade intelectual e humana. E o gosto de viver. O amor pela vida, pela vida nas suas várias manifestações. E também uma grande capacidade de defender, digamos assim, este seu amor pela vida, com uma aparente ferocidade que, por vezes, traduzia-se naquele tom de escárnio que, aliás, faz o sal da poesia dele mas que no fundo é mais uma defesa do que realmente uma excelência. Quer dizer o Alexandre, no fundo, era uma pessoa extremamente sentimental, até muito sentimental, que defendia a sua sentimentalidade com uma carapaça que ele próprio e a vida lhe tinha ensinado a elaborar."