quarta-feira, 13 de maio de 2015

Um Chá no Deserto de Bernando Bertolucci

The Sheltering Sky de
Bernardo Bertolucci (1990)

    The Sheltering Sky é um filme que passou com o título “Um Chá no Deserto” nos écrans portugueses faz agora 25 anos. Curioso título que obteve na língua portuguesa nomes bem diferentes (os brasileiros adotaram para a tela o título O Céu que nos Protege e, nós, em Portugal, optámos por Um Chá no Deserto, por sinal diferente da edição em livro). O filme do realizador italiano, Bernardo Bertolucci, conta no elenco com a actriz Debra Winger e o actor John Malkovich, enquanto personagens principais, data de 1990 e é baseado no romance com título homónimo, sendo necessário ouvir com toda a atenção a banda sonora de Ryuichi Sakamoto. O escritor Paul Bowles entra também no filme, narrando excertos da própria obra:
 "-Estás perdida?
-Sim.
-Como não sabemos quando vamos morrer, acreditamos que a vida é um poço sem fundo.No entanto, tudo acontece apenas um determinado número de vezes, não muitas. Muitas vezes vem-nos à memória uma certa tarde da infância, uma tarde que nos marcará para resto da vida, uma tarde que é tão importante que não podemos imaginar a nossa vida sem ela. Talvez quatro ou cinco vezes, nem isso.E quantos vezes contemplámos a lua cheia? Talvez vinte. E mesmo assim, aos nossos olhos, tudo nos parece ilimitado."

Um Postal de Primaveril de Janeiro Alves

      Um estranho nevoeiro ou neblina matinal levita sobre a cidade, que parece amorfa, parada à espera de uma qualquer catástrofe. As pessoas arrastam-se suportando o peso de algo indecifrável às costas, de um fado que hoje se revela enfadonho e denso como lava pastosa a descer as encostas de um vulcão. De olhos semi-cerrados cumprimentam-se com um pesaroso levantar de mão, respirando com dificuldade o ar conspurcado pelas partículas de calor febril. Algumas aproveitam hoje para morrer, outras persistirão para amanhã. Em algumas se vê o sofrimento latente resultante deste manto acinzentado, enquanto que outras fingem que tudo se desenrola dentro da normalidade. Há pessoas a definhar nos bancos de jardim, e há pessoas assistidas de emergência por máquinas de refrescar as ideias. Algumas correm para o abismo dos seus ofícios, enquanto que outras discutem a situação actual nos cafés da cidade. Há pessoas para tudo. Até para escrever sobre isto, como este seu amigo,

Janeiro Alves