quarta-feira, 13 de maio de 2015

Um Postal de Primaveril de Janeiro Alves

      Um estranho nevoeiro ou neblina matinal levita sobre a cidade, que parece amorfa, parada à espera de uma qualquer catástrofe. As pessoas arrastam-se suportando o peso de algo indecifrável às costas, de um fado que hoje se revela enfadonho e denso como lava pastosa a descer as encostas de um vulcão. De olhos semi-cerrados cumprimentam-se com um pesaroso levantar de mão, respirando com dificuldade o ar conspurcado pelas partículas de calor febril. Algumas aproveitam hoje para morrer, outras persistirão para amanhã. Em algumas se vê o sofrimento latente resultante deste manto acinzentado, enquanto que outras fingem que tudo se desenrola dentro da normalidade. Há pessoas a definhar nos bancos de jardim, e há pessoas assistidas de emergência por máquinas de refrescar as ideias. Algumas correm para o abismo dos seus ofícios, enquanto que outras discutem a situação actual nos cafés da cidade. Há pessoas para tudo. Até para escrever sobre isto, como este seu amigo,

Janeiro Alves

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