sábado, 23 de maio de 2015

Toda a Maravilha do Mundo

É como tu dizes, devia de novo partir.
Nunca fui feliz numa casa.
Nunca fui feliz em família.
Nunca senti saudades, quando estava
só e distante. Toda a maravilha
do mundo para mim era o passeio
alto sobre o mar quando, com os livros da escola
numa pasta, com passo rápido
andava, e inspirava o vento
da cor do sal e das piteiras
e fingia dar a mão
a uma rapariga: a maravilha, a raça
forte dos sonhos, os livros, o cinema,
as longas viagens de comboio,
as longas travessias da alma
mas nunca as paredes de uma casa, nunca.

Giuseppe Conte, traduzido do italiano por Clara Rowland in No Cais da Poesia 2, Antologia, Organização de Manuela Júdice, Teorema, 2006, pág. 59.

...das Ilhas.

Fazendo nº26
1.Descia, por isso, as vezes que fossem necessárias, até restaurante para o jantar, parar junto à escotilha da porta de madeira, esperar, pouco tempo depois dos velejadores desenharem os seus símbolos pintados nas paredes enquanto os pescadores se sentavam no muro da marina a desejar mais tempo e mais certezas para regressar à vida ou ao torpor de existir, seguido da faina e do mar e do barulho intenso dos jovens cagarros. Terá sido certamente por essa altura, o primeiro contacto com este jornal, uma fotografia de capa com peixes na lota à venda, a leitura deste em modo solitário nas mesas vazias com as estantes carregadas de livro, enquanto o Emídio no interior da cozinha (em labuta e na luta com os boca negras, cântaros ou imperadores) o barulho dos tachos, ainda a canção da Anna Järvinen a pedir um regresso a casa em “Kom Hem”, o retiro solitário em forma de conforto da suite do hotel com os nome de verde e de mar. O silêncio.