Os amigos são a única certeza que temos na vida, disse um dia um poeta
açoriano. Os verdadeiros amigos são aqueles que ficam para o fim da festa
quando já toda a gente se foi embora. Reconhecem-se à distância e mesmo quando
estão longe sabemos desde sempre que estão próximos. Os amigos, ao contrário
dos pais e irmãos, são necessariamente escolhas nossas. Por isso, uma boa
amizade requer, na maioria das vezes, tempo para ser construída, exigindo
encontros e interesse constantes, atenção, muita partilha, risco e, se
possível, intimidade. Tal como o amor, a amizade nem sempre corre bem e, por
isso há zangas, conflitos - muitas vezes violentos - amuos sistemáticos,
separações, cortes abruptos e demoradas reconciliações. Muitas vezes não damos
o devido valor nem significado merecido às coisas raras que temos diante de
nós. Agora que voltei a falar com um grande amigo é que penso em tudo o que não
lhe disse, o tempo que perdemos afastados, os momentos que não partilhámos, mas
que, até que enfim, nos reconciliamos. Porque também acredito, à semelhança do
poeta Rui Machado, os amigos moram no
coração.
terça-feira, 16 de julho de 2013
Três Poemas de Emanuel Félix
POÉTICA
Nada digo por hábito
tudo de novo vem de ti
nasce de novo
Nada digo de novo
sobrevoo
o deserto movente das palavras
em busca de um sinal
exacto e comovente do teu corpo
SINAL
Ergo nas mãos em concha
uma lembrança de água
oh presença subtil no deserto de um livro
a que uma folha dura
E que frágeis os trincos da memória
do que era teu e meu
a invisível tesoura
com que cortar os sonhos pela cintura
TRISTES NAVIOS QUE PASSAM
Tristes navios que passam
na hora da nossa vida
na hora da nossa morte
escuros vasos de guerra
cargueiros tanques paquetes
brancos navios de vela
levam óleo levam ódio
luxo lixo das cidades
levam gente gente gente
deixam ficar nostalgia
tristes navios que passam
na hora da nossa morte
na hora da nossa vida
Emanuel Félix (Angra do Heroísmo 1936 –2004)
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