Há dias
despedimo-nos de Bruno da Ponte, mais um amigo que vai fazer falta. O Bruno
tinha formação em Economia mas foi na área cultural a que dedicou a maior parte
do seu trabalho. Bruno da Ponte trabalhou assim toda a vida enquanto editor,
tradutor, jornalista, e coordenador de tantas editoras – Minotauro, Teorema ou
as Edições Salamandra. Comecei, primeiro, por vê-lo na Associação Cultural
Abril em Maio, em Lisboa, à altura, rua da Verónica, onde lançou as sementes de muitas coisas bonitas,
entre elas uma agenda repleta de manifestos, mas foi na sua terra natal (São
Miguel) que falei com ele pela primeira vez numa rua de Ponta Delgada, acidentalmente. Foi com alegria que aceitou o convite para colaborar
e escrever para o Boletim Cultural Fazendo, sediado na Ilha do Faial, do qual
foi sempre um leitor e entusiasta. Ele que durante anos esteve ligado a 121 publicações
relacionadas com os Açores através da colecção Garajau, e, como tão bem escreveu Onésimo Teotónio de Almeida, estabeleceu uma verdadeira ponte entre o
arquipélago e o continente português. O Bruno da Ponte foi um verdadeiro amante
das artes e das letras e, recordo, por isso, o quanto era delicioso e instigante
ouvi-lo discorrer sobre qualquer assunto ou tema literário. Saudades!
quarta-feira, 19 de dezembro de 2018
saxofone baixo.13
o mar enrolou-se no ouvido
quando a maré vazou
restou apenas o sal nos tímpanos
a música rente à terra
no cimo dos telhados fumam-se cigarros
laranja da beata no tijolo
pode-se morrer de súbito aqui
o mofo abafado do silêncio toca
os velhos discos
e é já cinza o sal dos tímpanos
pode-se chorar aqui
de súbito
à espera que a lua arraste a maré cheia
da música rente
dos telhados se cai no mar
não basta calar a beata é preciso afogá-la
Tiago Araújo, in Diapositivos, Quasi Edições, Novembro de 2001.
quando a maré vazou
restou apenas o sal nos tímpanos
a música rente à terra
no cimo dos telhados fumam-se cigarros
laranja da beata no tijolo
pode-se morrer de súbito aqui
o mofo abafado do silêncio toca
os velhos discos
e é já cinza o sal dos tímpanos
pode-se chorar aqui
de súbito
à espera que a lua arraste a maré cheia
da música rente
dos telhados se cai no mar
não basta calar a beata é preciso afogá-la
Tiago Araújo, in Diapositivos, Quasi Edições, Novembro de 2001.
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