Fotografia: Tiago Rodrigues |
terça-feira, 7 de outubro de 2014
A Imperfeição da Filosofia
“Há uma grande diferença entre aprender, emagrecer, curar-se, edificar,
caminhar e ver, ajuizar, compreender, viver, ser feliz. Há alguma coisa nessa
actividade, que é o filosofar, que tem alguma afinidade com caminhar, aprender,
curar-se, no sentido em que, efectivamente, é mais pela indeterminação do lugar
onde se quer chegar, mais pela impossibilidade de traçar um limite preciso do
que pela clara realização da actividade enquanto fim, que aceitamos que
filosofar seja como viver ou ser feliz. E isso vê-se no nome Filosofia:
amor, uma dedicação e cuidar do que é justo, do que é bom e verdadeiro, da
sabedoria, aparecendo o fim da Filosofia aos olhos de Platão como nunca detido:
o filósofo não é sábio, está a dois pontos afastado da sabedoria.
Pois aquele que ama está num embaraço, não
sabe o que faz, anda à procura. Não é esta a maneira menos decisiva de
justificar a natureza incompleta da Filosofia – termo cujo significado nunca se
fixou definitivamente - tarefa intrigante, que leva de cada vez a cabo uma
inquirição de identidade, desde sempre grande motivo de escárnio de escândalo.
Com efeito, só se pode amar aquilo que não se possui. A imoderação própria da
actividade filosófica tem que ver com a natureza do amor.”
in A Imperfeição da Filosofia, Maria Filomena Molder, Lisboa,
Relógio d´Água, 2003.
Poema
Preferia
não saber das ruas
onde posso desfazer-me do desejo.
Ir ao encontro das estátuas
para me refazer do medo.
A noite é pequena e cabe
num gesto atirado ao ar
quando se parte sem olhar para trás,
nem necessidade de confirmar amor algum.
Não estou morta nem vou morrer.
a habitual dificuldade em existir cedo.
in Pedra de Lume, Marta Chaves, Lisboa: Paralelo W, 2013, p. 27
onde posso desfazer-me do desejo.
Ir ao encontro das estátuas
para me refazer do medo.
A noite é pequena e cabe
num gesto atirado ao ar
quando se parte sem olhar para trás,
nem necessidade de confirmar amor algum.
Tirei
tudo dos bolsos.
Toquei
o rosto para sentir a temperatura.Não estou morta nem vou morrer.
De
regresso a casa, a única certeza:
que
a manhã virá para reflectir a palidez,a habitual dificuldade em existir cedo.
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