Caros leitores e leitoras,
durante os meses da canícula estive alegremente apartado deste espaço e deveras
retirado do mundo das letras. Foi preciso o dealbar do Outono e o retomar da
melancolia - os dias encurtaram, o sol rareia, é certo - daí que é desta forma
triste e acabrunhada que regresso ao vosso caloroso e apelativo convívio. Como
devem imaginar é necessário ficar arreigado do movimento diplomático do
Outono, tão necessário ao meu espírito luso para que as palavras se alinhem e
enfileirem engrossando este mural de lamentações bem como alguns lampejos se
lancem na atmosfera e ganhem respectivo corpo e movimento. Durante a minha
ausência, o mundo esteve muito calmo, demasiado até, vivemos num mundo
comovente sem qualquer comoção. Sim, eu sei, ao contrário do mundo da alta
finança e da especulação que continua desvairado e louco, mas nesse âmbito
sempre me mexi com muita dificuldade, tendo ouvido recentemente uma declaração de
uma vítima desse desastre declarar: "Estou morto mas ainda fungo!". Tenho,
portanto, dedicado a minhas parcas horas de ócio à recolecção de sonoridades
perdidas no fundo do tempo. Acredito que o mundo sem música seria um
desperdício. Um amigo de longa data diagnosticou-me instabilidade crónica no
meu espírito, pensa ele que se deve em muito ao terreno geológico que agora
piso e às constantes divagações das quais resultam charlas e fait-divers que não lembram ao vosso
familiar mais estranho. Ultimamente, a minha alimentação é bastante modelar,
sigo à regra uma dieta alimentar baseada em bifes de atum, chicharros, iogurtes
florentinos e umas suculentas meloas de Santa Maria…quem sabe não são estas que
ainda me prendem ao quotidiano ou mesmo à dura e esdrúxula realidade em que nos movemos. Em suma, espero que
amanhã ainda tenham vontade de me ler.