terça-feira, 6 de outubro de 2015

Capítulos B – Poesia nos Açores

      

      A edição é de 150 exemplares e tem o preço simbólico de 2 euros. Luís Andrade coordenou, organizou e fez o grafismo deste projecto apoiado pela Direcção Regional da Juventude, através do programa "Põe-te em Cena". A colectânea reúne dois poemas dos seguintes autores: Carla Veríssimo, Eleonora Marino Duarte, Fernando Nunes, João Malaquias, João Morais, João Quental Oliveira, José Soares, Júlio Ávila, Leonardo e Luís Augusto. Os pedidos deverão ser feitos para: capitulospoesia@gmail.com

Furnas

“Diz-se que certos indivíduos, que ao chegarem às Furnas parecem montanhas de carne, no regresso a suas casas vão de tal modo magros que quase os desconhecem os seus amigos. O processo consistiu em permanecer de molho umas horas por dia em águas muito quentes, deixando depois que por espaço de mais uma ou duas horas se opere o suadoiro de expurgo, para o que o paciente se embrulha em grossos casacões de lã e envolve a cabeça e o pescoço em toalhas. Os banhos produzem nestas pessoas um desgaste de reservas corpóreas semelhante ao que a fome no Inverno causa num arganaz hibernante.”



in Um Inverno nos Açores e Um Verão no Vale das Furnas, de Joseph e Henry Bullar, edição do Instituto Cultural de Ponta Delgada, Ilha de São Miguel, Açores, 1986.

Cantar com a Patti Smith…

     “Talvez seja uma utopia do contra, mais uma para a oposição do que para um governo, mas votar também é dizer não (como não votar pode ser) e, ainda que eu não votasse neles para o governo, vários candidatos, do Livre ao PCP, passando pelo Bloco, me parecem óptimos para essa resistência: zero retrocesso na lei do aborto, direitos plenos para os homossexuais, defesa do Estado Social, barreira contra os desmandos da Banca, a antítese de uma cultura agradecida, decorativa, ufanista. A propósito, Pàf assenta como uma bofetada nesta coligação. Portugal à frente de quê e para quê? Da quantidade de portugueses que esta coligação fez sentir a mais? Será a diferença entre patrioteiros e patriotas, mas sobre isso não me alongo. A ideia de pátria não me interessa, o nacionalismo não ama mais, confina e distingue. Interessa-me a ideia de amor a um lugar que se liga aos outros por isso mesmo, não tem medo de se perder, está em toda a parte: partir porque é bom, ficar porque é melhor. A vontade é que faz a casa. E aí podemos todos cantar com a Patti Smith "people have power". Somos nós e não há outros.”

Alexandra Lucas Coelho in P2, dia 4 de Outubro de 2015