quinta-feira, 29 de março de 2018

No teu amor por mim há uma rua que começa*

Fotografia de Carlos Olyveira
Vale a pena dessacralizar a poesia, mesmo quando é substituída pelos acordes do momento, acreditar que esta possa viajar em redor dos territórios mais inverosímeis da ilha, à semelhança do Tremor da passada semana, que é comentada, partilhada nos quartos, nos cafés, nas ruas, nas repartições, nas escolas, nos parlamentos e que é dita por cabeças pensantes, algumas tensas, outras esclarecidas e, até mesmo, as mais emotivas.
Houve, entretanto, na semana que passou, o Dia Mundial da Poesia com honras de poetas ditos e celebrados. Recentemente teve também lugar o Dia Mundial do Teatro e,  por aqui, houve quem  se atrevesse a encher a boca de baboseiras e continue a alimentar projectos megalómanos e afins, quando é tão raro vê-lo ou até mesmo fazê-lo. O Teatro é para ser feito! Não tem eco nem bandeira, os jornais e políticos pouco ou nada dão conta deste doloroso e apagado desinteresse. Por isso, relevante é continuar dizendo (e não declamando, que palavra horrorosa!) poemas nesta noite primaveril com a concentração sobre os livros pousados nas mesas de madeira desse pequeno estabelecimento com tradição de leitura poética. A rua onde isto se passa tem nome de antiga capital do reino, agora democracia europeia. Ou, então, soltar o ar do tempo nesta pausa pascal para simplesmente saber da vida, deleitar-se com as estrelas cadentes e fruir o esplendoroso luar de Março, pois o sol, sim esse astro luminoso, é garantidamente de Medeiros/Lucas.

*Ruy Belo, in "Aquele Grande Rio Eufrates".