sexta-feira, 24 de maio de 2013

Luís Pinheiro Brum e Natália Correia no IAC

A propósito de Natália...Entre Linhas e Letras 
em exposição no IAC
          Reza a história que nas suas longas viagens marítimas os marinheiros levavam consigo biscoitos, um tipo de pão ázimo (sem fermento) cozido duas vezes. O que é um facto é que as curraletas de uma freguesia da costa norte da Ilha Terceira são constituídas por pequenos pedaços de basalto que se erguem por detrás das vinhas. A similitude destes pedaços basálticos com o pão (biscoitos) originou o nome daquela povoação. Luís Fernando Pinheiro Brum, arquitecto paisagista, nasceu a meio da década de oitenta na Ilha Terceira na freguesia dos Biscoitos. Licenciou-se em arquitectura paisagista no final da primeira década do século XXI em Lisboa, Instituto Superior de Agronomia, viveu e estagiou entretanto na cidade de Barcelona e regressou recentemente à terra onde nasceu para viver e trabalhar. Em 2011, os terceirenses puderam ver uma exposição de desenho sua intitulada “Antropomorfismo Urbano”, no foyer do Centro Cultural de Congressos de Angra do Heroísmo, tendo sido seleccionado para a Mostra Nacional de Ilustração “Entre Polos”. Actualmente acontece a quem passa pelo centro de Angra, Rua de São João, poder olhar para um contraplacado que serve de protecção a uma casa devoluta e deparar-se com os desenhos deste e assim poder contemplá-los. Vê-se uma baleia e uma tartaruga voadoras de enormes proporções espelhadas numa grande superfície branca. A tartaruga alberga um casal dançante com música extraída da grafonola e a baleia transporta casas e um rapaz que embala um papagaio de papel. É difícil não se deixar levar pelo encantamento daquela tartaruga e baleia que têm o condão de servir de suporte à existência de seres mais terrenos ou não, depende da imaginação. É a fantasia da viagem que aqueles desenhos permitem e, se é certo que estes permitem referências imediatas, o importante é o cruzamento de um diálogo entre um imaginário infantil, estilizado através da gravura, e de um código de sinais e sentimentos, subjectivos ao autor. Há, portanto, aqui muita inventividade e destreza no seu traço sensível e elegante. É que o desenho de Luís Brum tem coração de ilha, pulsa, tem vida própria, e, coisa rara, denota a construção de um imaginário açoriano com a diversidade e riqueza de elementos insulares e marinhos que há muito aqui habitam. É muito possível que Luís Brum desenhe a ouvir o álbum “Rain Dogs”, do flamante Tom Waits, lançado aquando do ano do seu nascimento, mas qualquer coisa de surpreendente e misterioso se passa nesse desenho cozido e recozido como o célebre pão ázimo dos Biscoitos.