"Tudo, não é? Devemos tudo. Se eu pensar nos meus pais...O meu pai, já não foi à guerra porque houve o 25 de Abril. Estava a fazer a tropa. Foi mobilizado, não chegou a ir. Naquele período começou a estudar - é autodidacta - sobre como fazer fotografia. Não tenho fotografias nenhumas de quando era pequena porque estava só concentrado nos livros de fotografia. Acho que aprendeu, também, com uma pessoa. Quando penso que sou uma mulher, artista. e vivo na Europa...Crescemos com isso garantido. Agora começamos a perceber que não é assim tão garantido. Isto é, cresci numa família onde nunca questionei se era uma mulher ou se era homem. Quis ser artista e ninguém me obrigou a ser outra coisa. Se tivesse nascido há 60 ou 70 anos, não era assim. Portanto, eu, acho que devemos todos imenso ao 25 de Abril."
in Os Filhos da Madrugada, Anabela Mota Ribeiro, Temas e Debates, Novembro de 2021.