segunda-feira, 4 de abril de 2016

A Miolo da Rua de Pedro Homem

       
Galeria Miolo na Rua de Pedro Homem
Miolo é um novo ponto de paragem e observação na rua de Pedro Homem, no centro histórico de Ponta Delgada. Segundo reza a história, Pedro Homem foi escrivão do Ouvidor do rei D. João III, viveu e morreu por ali, caracterizando-se por possuir capacete ou adaga e terá sido este o introdutor de várias aves - falcões, cisnes e milhafres - na Ilha de São Miguel. A nova galeria que passa agora a existir no número 45 desta rua pretende ser, cinco séculos depois, mais um ex-libris de forte atracção e interesse, não só histórico, mas também cultural e turístico. E porquê? É que nesta rua já existe o restaurante vegetariano “Rotas”, o Hostel The NooK, o Bed and Breakfast “By Lapsa” e, para além de tudo isto, há também um cabeleireiro, um dentista e uma farmácia na esquina.
         Em Janeiro deste ano a Miolo inaugurou a sua primeira exposição de fotografia, e que é  o resultado do seu primeiro mês de existência e abertura ao público. Aliás, quem descobriu, entretanto, o espaço passou de imediato a fazer parte da exposição – ainda que de forma livre e espontânea vontade – pois bastava deixar-se fotografar em lugar próprio, à entrada da galeria. A exposição inaugural intitulou-se “Work in Progress” e mostrou a todos os que visitaram aquele espaço e viram esta ideia e conceito em movimento, descobrindo assim as diferentes fotografias expostas consoante a passagem dos dias, aproveitando para de algum modo conhecer o seu interior e o que esta dupla fundadora tem para “oferecer”.
        Vitor Marques e Mário Roberto pressentiram ser este o momento para combinar as capacidades criativas de ambos e contemplarem a Miolo, enquanto editora, aliada ao projecto Malavelha Photografia, que recuperará assim os primórdios da revelação fotográfica, demonstrando o que o passado das imagens nos pode hoje ainda oferecer. Esta ideia antiga foi posta em prática com um risco diminuto por estes assumido, conscientes que estão que após a “Miolo” outras iniciativas semelhantes irão ter lugar no "miolo" citadino.
         Ao longo deste ano, a Miolo tem já várias actividades agendadas, pretendendo, em primeiro lugar, funcionar como espaço de galeria de fotografia e ilustração, seguindo-se à exposição de Paulo Prata, autores como Carlos Medeiros, Luísa Aguiar, Ian Allaway entre outros, podendo ainda os visitantes da galeria adquirir vários múltiplos de artes de artistas conhecidos da nossa praça – Tomaz Borba Vieira, José Nuno da Câmara Pereira, França Machado, Pedro Cabrita Reis, Alice Geirinhas, Inês Ribeiro, André Laranjinha ou simplesmente a Agenda Luz, de vários criativos micaelenses, para o ano de 2016.

Ontem, escrito numa parede da cidade

O pintor inquieto sentia-se impotente a pintar o que quer que fosse. Saiu de casa a pensar que se juntasse todas as cores surgisse uma só cor que não tivesse visto ainda. 

nunca se diz adeus

não dá melancolia, é uma saudade concreta, nada tem de nostalgia, ninguém se esquece de nada, a memória arrasta viagens, credos, angústias, glórias, a nossa fatia de vida lembra-se com força para marcar a fogo uma alegria inatingível e próxima como a fúria da água, tão distante como os passos numa órbita à descoberta de uma vocação

não estamos por ordem, apenas somos diferentes, há lixo da época ouro hoje, deitam-se fora coisas discretas da altura que agora nos deixam a pele em arrepio, fica o pavio duro e rígido, nem na morte (ou muito menos na morte) alguém é abstacto e até já nos esteja destinado o futuro

nada é impossível ou verosímil quando vem ter connosco sem pedir licença ou fazer cerimónia, e o amor, o amor, a essência mais perene, dura o que durar, para além de nós se lhe aprouver, somos apenas uma personagem – entre milhões – atentos ao momento exacto da nossa voz, somos líricos, somos tenazes, devemos louvar esse legado e bem querer-lhe.

nenhuma palavra ou imagem é definitiva, nenhum testemunho desaparece, nenhum gesto passa por aqui em vão, o tempo tudo regista e só os homens dão por isso. O mais frequente é o mundo alarve que nos cerca, alimenta e devora, não nos dar muita importância e um dia nos vir buscar quando já não estivermos à espera

nunca se diz adeus

Joaquim Castro Caldas in “Mágoa das Pedras”, Deriva Editora.

Canção do Mar Aberto

Onde puseram teus olhos
A mágoa do teu olhar?
Na curva larga dos montes
Ou na planura do mar?
De dia vivi este anseio;
De noite vem o luar,
Deixa uma estrada de prata
Aberta para eu passar.
Caminho por sobre as ondas
Não paro de caminhar.
O longe é sempre mais longe…
Ai de mim se me cansar!...
Morre o meu sonho comigo,
Sem te poder encontrar.

Armando Côrtes-Rodrigues, in Planície Inquieta.