“Quando as ilhas dos Açores foram povoadas,
os colonizadores portugueses relataram que elas não eram habitadas e que apenas
encontraram matos e rasteiros e uma fauna constituída por animais e aves de
pequeno porte. Destas, o milhafre – a maior, terá dado o nome ao arquipélago.
Essa flora primordial era a que se designa hoje de Laurissilva. Actualmente
contabilizam-se cerca de 300 espécies de plantas fariam parte dessa floresta
inicial e delas 80 são endémicas – património único destas ilhas. Esta
originalidade é partilhada com as restantes ilhas da Macaronésia. Temperadas
pelo oceano Atlântico, sobreviveram à última glaciação que afectou o nosso
planeta, constituindo, pois, uma memória viva da floresta remota que terá
povoado a Europa e Norte de África. Apesar de pequena, é na Europa a floresta
que apresenta a maior biodiversidade. Nas encostas da Lagoa do Fogo ou na
Estrada da Tronqueira ainda se poderá ter uma pequena ideia do que era essa
floresta original onde predomina o Azevinho (Ilex Azorica), o Louro (Laurus
Azorica) e o Cedro-do-Mato (Juniperus
brevifolia); uma floresta rasteira e envolta por nevoeiros e grande
humidade, com manchas de turfeira(musgão), elemento que retém e filtra a água
dos solos. Em zonas costeiras, habitam as Faias da Terra (Myrica Faya) e o Pau Branco (Picconia
azorica) e o Sanguinho (Fragula
azorica) sem esquecer a Vassoura ou Urze (Erica Azorica), que é a planta que primeiro se instala nos novos
solos ainda puramente minerais resultantes do vulcanismo. Num passeio pelas
zonas costeiras - pelo calhau -, poder-se-á encontrar um cacho de campainhas em
flor, a curiosa Vidália (Azorina vidalii),
endémico único dos Açores.”
Vitor
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