terça-feira, 4 de junho de 2013

J.P. Simões apresentou “ROMA” no Alpendre

Capa de João Lázaro
Há quase dez anos foi ao som da valsa que os “Quinteto Tati” na voz de J.P.Simões anunciavam uma Primavera, malgrado o laço e o verso, bem deprimida: “Dança comigo a primeira valsa da Primavera/dança sem sonhos/ esquece as promessas/ ninguém nos espera/ Já enchi os dias de lutas vazias/ estou gasto, cansado, dormente./ E um pouco de sexo ou muita poesia/ ainda não fico indiferente.” O álbum “1970” trouxe um J.P. Simões na demanda da sua geração, um trovador mimético dos cantores que ama e venera, repleto de fisgas certeiras a expurgar melancolia aos molhos, a espremer os pontos negros da tristeza que lhe tolhia os gestos e movimentos, ao mesmo tempo que procurava a bússola de velhos náufragos sem rumo nem navegação à vista. Os anos passaram, e, se é um facto que a estação primaveril continua em exílio profundo por estas bandas, ainda que pedindo algum conforto ao amor e à poesia para organizar esta terapia profunda e morosa em que nos encontramos, olhamos à nossa volta e gostaríamos tanto que alguma coisa tivesse mudado. Havia, no entanto, a convicção de que era necessário menear os remos e lançar jangadas ao mar. Entretanto surgiu um dueto com Márcia e a canção “A Pele que Há em Mim (Quando o Dia Entardeceu)” elevou-se em estrondosa popularidade e fazendo com que o antigo cantor dos "Belle Chase Hotel" permanecesse no patamar dos cantores românticos com nódoas no coração. Nada de grave, sem retirar qualidade ao duo, apenas alguma exposição prolongada em vitrines de fancaria. Por conseguinte, a fama não retirou a seiva nem sangue na guelra e ei-lo de volta como se tivesse limpo o nevoeiro sebastiânico do momento, deslocando o ponteiro das emoções e libertando o jorro da velha fonte. J.P. Simões encheu-se assim de alegria e decidiu brotar energia e flechas coloridas com pontaria bem afinada, num novo disco intitulado ROMA para lembrar que o amor também  tem o seu contrário. Retome-se então o florido encontro com J.P.Simões com tantos músicos de origem brasileira, escutemos o deslizar da sua mão direita em modo babelia, cantando e bebendo em línguas diferentes, clamando atenção para os coros de Luanda Cozetti, confirmando o pleno de tantas emoções primaveris em catadupa, nunca deixando de provocar e inquietar: “Gosto de me drogar/de beber como um louco/acho sempre que é pouco/quero engolir o mar/só assim me suporto/e então não me importo/de ouvir cantar o fado/e ficar deslumbrado com.../sei lá o quê”. Quem assistiu ao concerto no auditório do Alpendre, no passado dia 1 de Junho, logo na abertura cedeu perante a ousadia do cantautor: “Desliguem os vossos pacemakers!” e, assim pôde assistir ao desfilar de um conjunto de canções que espalha perfume, desencanta pérolas e remete o nosso universo de símbolos gastos para outra realidade que não aquela em que estamos submersos com as palavras do costume. Era tão bom que mais ouvidos se virem do avesso, fiquem retorcidos e entoem este ROMA, aquecendo os seus empedernidos corações e se deixem ir por “La Strada”. A determinada altura, J.P. Simões citou um curioso epitáfio de Alexandre O´Neill, tocou fogosa “Inquietação” de José Mário Branco, e vergou-se perante os músicos irmãos brasileiros em "Carnaval Radioactivo"…não parou nunca de ironizar e regozijar-se com o mundo em que vive. Caso para dizer em plena madrugada angrense: mas que grande des (concerto)!!!