Capa de João Lázaro |
Há
quase dez anos foi ao som da valsa que os “Quinteto Tati” na voz de J.P.Simões anunciavam
uma Primavera, malgrado o laço e o verso, bem deprimida: “Dança comigo a primeira valsa da
Primavera/dança sem sonhos/ esquece as promessas/ ninguém nos espera/ Já enchi
os dias de lutas vazias/ estou gasto, cansado, dormente./ E um pouco de sexo ou
muita poesia/ ainda não fico indiferente.” O álbum “1970” trouxe um J.P. Simões
na demanda da sua geração, um trovador mimético dos cantores que ama e venera,
repleto de fisgas certeiras a expurgar melancolia aos molhos, a espremer os
pontos negros da tristeza que lhe tolhia os gestos e movimentos, ao mesmo tempo
que procurava a bússola de velhos náufragos sem rumo nem navegação à vista. Os
anos passaram, e, se é um facto que a estação primaveril continua em exílio
profundo por estas bandas, ainda que pedindo algum conforto ao amor e à poesia para
organizar esta terapia profunda e morosa em que nos encontramos, olhamos à
nossa volta e gostaríamos tanto que alguma coisa tivesse mudado. Havia, no
entanto, a convicção de que era necessário menear os remos e lançar jangadas ao
mar. Entretanto surgiu um dueto com Márcia e a canção “A Pele que Há em Mim
(Quando o Dia Entardeceu)” elevou-se em estrondosa popularidade e fazendo com
que o antigo cantor dos "Belle Chase Hotel" permanecesse no patamar dos cantores
românticos com nódoas no coração. Nada de grave, sem retirar qualidade ao duo,
apenas alguma exposição prolongada em vitrines de fancaria. Por conseguinte, a fama
não retirou a seiva nem sangue na guelra e ei-lo de volta como se tivesse limpo
o nevoeiro sebastiânico do momento, deslocando o ponteiro das emoções e libertando
o jorro da velha fonte. J.P. Simões encheu-se assim de alegria e decidiu brotar
energia e flechas coloridas com pontaria bem afinada, num novo disco intitulado
ROMA para lembrar que o amor também tem o seu contrário. Retome-se então o florido
encontro com J.P.Simões com tantos músicos de origem brasileira, escutemos o
deslizar da sua mão direita em modo babelia, cantando e bebendo em línguas
diferentes, clamando atenção para os coros de Luanda Cozetti, confirmando o
pleno de tantas emoções primaveris em catadupa, nunca deixando de provocar e
inquietar: “Gosto de me drogar/de beber
como um louco/acho sempre que é pouco/quero engolir o mar/só assim me suporto/e
então não me importo/de ouvir cantar o fado/e ficar deslumbrado com.../sei lá o
quê”. Quem assistiu ao concerto no auditório do Alpendre, no passado dia 1
de Junho, logo na abertura cedeu perante a ousadia do cantautor: “Desliguem os
vossos pacemakers!” e, assim pôde assistir ao desfilar de um conjunto de canções
que espalha perfume, desencanta pérolas e remete o nosso universo de símbolos gastos para outra realidade que não aquela em que
estamos submersos com as palavras do costume. Era tão bom que mais ouvidos se
virem do avesso, fiquem retorcidos e entoem este ROMA, aquecendo os seus empedernidos
corações e se deixem ir por “La Strada”. A determinada altura, J.P.
Simões citou um curioso epitáfio de Alexandre O´Neill, tocou fogosa “Inquietação” de José Mário Branco, e
vergou-se perante os músicos irmãos brasileiros em "Carnaval Radioactivo"…não parou nunca de ironizar e
regozijar-se com o mundo em que vive. Caso para dizer em plena madrugada angrense: mas que grande des (concerto)!!!
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