O espanto é
naturalmente zetético. E viver espantado pode não significar avançar. Adiantar
um passo que seja é diligenciar reboliço, convidar à inquietação, ao seu
próprio alvoroço, atrair o individual temor perante qualquer movimento em falso. O
espanto é este tumulto imóvel, desejar somente contemplar, e assim não
determinar a finalidade de um gesto repetido quotidianamente. Olhar e unicamente
experienciar a vida pelo interior de nós a deslizar.
Não querer
avançar pode ser também um ato de erudição. Pura sapiência. Evocar os seletos sábios
ou o que fomos lendo deles. Permanecer prostrado perante tão delicada planta no
corredor da existência serôdia. E de tão alta, tão esguia, tão bela e discreta
que o seu nome é só aquilo que a natureza guarda. De gáudio fascinante.
Enquanto me curvo é-me concedido um sorriso, o avistar do semblante, o despertar daquela presença
concreta e cheia de graça. E de forma vegetal flui a seiva no apelido, já o sabemos.
Queremos, por instantes, admirá-la. Essa exibição fresca de movimentos, o fausto e
prazenteiro deleite do perfil diariamente visível. E que secretamente escapa, foge, regressando por vagas. É a fina delicadeza em figura, quase sem expressão,
como num sonho muito antigo, concedendo apenas aqui e ali um esgar, um minúsculo devaneio de luz e deslumbramento. E a frágil certeza de que o digno de espanto é não querer avançar.