Não
é costume sair da farmácia zangado ou em vias de ficar doente, sem a mínima
réstia de esperança no mundo e na humanidade, mas foi isso o que me acabou de
acontecer. Passados tantos anos a usar a pasta dentífrica Couto (não tantos
como a existência desta, está no mercado desde 1932) não consigo ainda
compreender o que é que se passou com o seu preço de custo ao consumidor. Há
cerca de três semanas comprei uma caixa desta pasta dentífrica que custou 1
euro e 45 cêntimos. Um preço excelente dada a qualidade da fórmula, ainda nas
mãos do último herdeiro da família Couto, acessível em qualquer farmácia da
região açoriana ou do continente. Ora bem, esta pasta dentífrica que tem o
“objectivo de limitar o fenómeno crescente de retracção das gengivas” passou em
tão curto espaço de tempo a custar 2 euros e dez cêntimos. Na realidade, são
mais cinquenta e cinco cêntimos, o preço de um café em algumas pastelarias e
cento e dez escudos na antiga economia. Como é que isto foi possível? Deram com
a “Troika” nos dentes e nas gengivas??? Durante anos acreditei que a “Couto”
era sinal de um país secreto que sabia ser resiliente, sinal de uma marca
familiar que se mantinha pela persistência, pelo gosto e pela paixão de existir
– lembram-se da publicidade da “Couto” na televisão? – que mesmo assim podíamos
comprá-la a qualquer hora em qualquer farmácia de serviço por um preço amigo e com
a posologia em diferentes línguas: italiano, espanhol, francês e alemão, para
além do português, claro. Cheguei a usar muitas vezes o seu folheto para
incentivar a aprendizagem do português a estrangeiros, tendo alguns passado a
usá-la por curiosidade. O que está a acontecer é muito triste, mais triste será ter que deixar de lavar os dentes.
quarta-feira, 6 de março de 2013
Notas para um ensaio sobre açorianidade
“Há tempos já me
tentou o estudo dessas relações e o seu resultado. (…) Nesta ordem de ideias
procurei fixar aquilo que se me afigurou mais característico do meio açoriano –
o vulcanismo, a presença constante do mar, a insularidade, ou isolamento do
resto do mundo, a nebulosidade do céu, a temperatura oscilante entre estreitos
limites, a pressão atmosférica, os vendavais e tempestades, a diferença entre
as ilhas e o continente pelo que respeita às condições geográficas e da
paisagem, verificar ao mesmo tempo quais as qualidades morais comuns a todos os
ilhéus, a sua religiosidade profunda, espírito de submissão, indolência,
imaginação criadora, sentido de perfeição e de pormenor, espírito satírico,
certo grau de saudosismo. Infelizmente, porém, quando colhia elementos para o
meu estudo compreendi, a breve trecho, que era cedo demais para levar a cabo.
Falta ainda recolher e estudar muita coisa que é indispensável.”
Luís Ribeiro, in Correio dos Açores,
nº4768, 25 de Outubro de 1936 ( citação a partir do artigo “O meio escolar açoriano. Aspecto Geopsíquico” de Emanuel Félix
Borges da Silva, publicado na revista Atlântida de Novembro-Dezembro de 1964.
Subscrever:
Mensagens (Atom)