domingo, 19 de março de 2023

João Correia Rebelo: Um Arquitecto Moderno nos Açores

 
João Correia Rebelo por Pedro Valim
(Boletim Cultural Fazendo)


        "Ao evocar a criação e a postura de João Rebelo como arquitecto, dois traços fundamentais da sua maneira de ser avultam imediatamente, numa primeira apreciação: o seu grande talento. Terá sido esta última uma das razões para que o valor da sua obra  como arquitecto não tivesse sido reconhecido mais cedo. Mas houve outra razão, de natureza material: o nomadismo condicionou a sua vida. Tal circunstância conduziu a uma produção dispersa e fragmentada e impediu-o de constituir atelier próprio de carácter duradouro, onde a sequência dos projectos permitisse construir uma obra com consistência e visibilidade."

      Nuno Teotónio Pereira, in "Uma Vida Nómada, uma obra fragmentada, uma pessoa íntegra", in "João Correia Rebelo, Instituto Açoriano de Cultura, 2002.

"Morphine" de Sebastião Belfort Cerqueira

Não dei a volta ao mundo 
Nem tenho tempo a perder com  essas merdas
Mesmo ao pé de casa 
Encontrei estrangeiros bastantes 
A quem ainda hoje digo coisas 
Que não podiam perceber 

Tu e eu falamos uma língua 
Que o silêncio errado fez morrer 


Às vezes dou voltas à ideia 
Já me habituei e já não tenho 
Vergonha de dizer
Que não percebo 
Esta coisa de parecer um estranho 
De visita àquilo que viu crescer 

Tu e eu falámos uma língua
Durante anos 
Entendemo-nos tanto
Que agora não há nada a fazer 

in "Música Normal", Companhia das Ilhas, Janeiro de 2021.

Três Haikus de Naná da Ribeira

Testamento

Duas coroas de cerâmica
Meia centena de vinis 
E uma mala cheia de postais dos Açores


Internacional 

É um dia como os outros 
Neste caderno com versos 
E um prato de amendoins sobre a mesa


Sismo

Cada abalo é apenas um sinal
Envelhecemos 
Nós, por acaso, nem demos conta.