quarta-feira, 11 de abril de 2018

Palavra de Honra


 "A palavra de honra está moribunda, quase extinta, decadente. De facto, a honra morreu. É preciso fazer-lhe uma cerimónia fúnebre, e convictamente enterrá-la de vez. Sugiro uma cerimónia com pompa e circunstância, com flutes de espumante francês e canapés, e com uma consternação moderada, suavizada por actuações de palhaços contratados e cuspidores de fogo. Provavelmente não poderei estar presente devido a compromissos publicitários, portanto peço-vos que fiquem atentos: o que é para enterrar é só a honra! Não vá o coveiro distrair-se e enterrar também a palavra ainda viva. Seria um incidente embaraçoso, que nos deixaria literalmente sem palavras."

Fausto

Colo de Teresa Vilaverde no Teatro Micaelense



Como é que chegamos aqui? Poderia ter sido a pergunta feita milhares de vezes quando se atingiu o auge da crise portuguesa em 2012. E porque parecia uma nação antiga tão desorientada? E os seus cidadãos completamente perdidos e ausentes de laços de solidariedade? 
              Teresa Villaverde filmou, por isso, a sua cidade: Lisboa. Imaginou, há três anos atrás, o que seria na capital do país a desagregação de uma família onde a mãe está ocupada com dois trabalhos, o pai perde o emprego e a filha adolescente com as respectivas crises de crescimento. É tudo filmado de forma branda, anunciando de forma subtil o afastamento entre as pessoas e o esfriamento dos laços. Vai fundo na derrisão a que cada um está sujeito perante o medo da fragilidade e aquilo que a exposição da perda faz a cada um de nós. A tensão cresce, no entanto, este país nunca chega a estourar, rebentar de revolta ou a descambar completamente. Uma fotografia belíssima de Acácio de Almeida, uma interpretação convicta de Alice Albergaria Borges e ainda planos fixos que são pinturas lindas de assistir, valem bem a pena presenciar este filme que asseguram, sobretudo, as vozes do dono, vir em contraciclo. Será verdade?