quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Noite de Poesia na Tascá

Poema

Um dia hei-de ver se me levanto cedo
para apanhar o mundo de janelas fechadas,
a relva molhada cheia de gotas de água,
as bicicletas dos operários suburbanos,
o bafo dos burros das carroças de couves,
e o último poeta, coberto de orvalho,
trazendo um soneto e a noite em claro,
o último candeeiro iluminado.

(Um dia hei-de ver se me levanto cedo,
após uma noite sem silvos e asas,
sem tubos de aspirina e momentos de febre)
Um dia hei-de ver se me levanto cedo,
hei-de ver se me estudo sob a luz primeira
e se me lembro do meu riso de pequeno,
quando me faziam cócegas no pescoço...

Alexandre O´Neill

Curtas Metragens no Teatro Micaelense

Hoje, quinta-feira, às 21h30.

Vista de Cima

Fotografia de Carlos Olyveira

Da Criatividade

«O adulto criativo é a criança que sobreviveu»
Ursula K Le Guin, in Revista LER, Dezembro de 2017

Lavoisier: O Direito de Transformar

     Sim, é verdade, houve entrega e deleite na atuação ao vivo dos Lavoisier na Galeria Arco 8 deste passado sábado. Um guitarrista e voz (Roberto Afonso) e uma cantora (Patrícia Relvas) trouxeram a tradição e a experimentação pela segunda vez que se apresentaram ao público micaelense (a primeira vez foi na terceira edição do Burning Summer Festival, em Setembro último). 
   O duo apresentou-se em palco com a segurança de quem sabe que cada concerto é um desafio e que o público insular pode ser gelo que derrete sem se ver. A assistência, cerca de setenta pessoas, esteve concentrada e curiosa durante hora e meia de espectáculo. Por sinal, houve logo uma sensação de reconhecimento imediato do reportório que nos remete para outras vozes e outros tempos, essa identificação precoce de um imaginário popular, colectivo, bem português. O tema “Senhora do Almortão”, entoado com versos diferentes em cada região, serviu de mote para começar e, quase no final, dar por concluído o concerto evidenciando, assim, o modo recreativo patente no processo da banda. Após a audição desta ousada proposta musical, o modo e o jeito como são (re) interpretadas estas canções, é que se percebe a garantia e relevância deste projecto que se quer criativo e transformador.