quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Noite de Poesia na Tascá

Poema

Um dia hei-de ver se me levanto cedo
para apanhar o mundo de janelas fechadas,
a relva molhada cheia de gotas de água,
as bicicletas dos operários suburbanos,
o bafo dos burros das carroças de couves,
e o último poeta, coberto de orvalho,
trazendo um soneto e a noite em claro,
o último candeeiro iluminado.

(Um dia hei-de ver se me levanto cedo,
após uma noite sem silvos e asas,
sem tubos de aspirina e momentos de febre)
Um dia hei-de ver se me levanto cedo,
hei-de ver se me estudo sob a luz primeira
e se me lembro do meu riso de pequeno,
quando me faziam cócegas no pescoço...

Alexandre O´Neill

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