quarta-feira, 4 de abril de 2018

Breve Léxico do Nosso Tempo

     “E uma nova civilização começou a erguer-se a uma velocidade inaudita diante de nós e penetrou bem dentro de nós. Com as redes, todas as regras do jogo político, sócio-económico e cultural foram profundamente afectadas ou mesmo desintegradas. Uma rede sem centros e sem diferenciação do espaço e do tempo constituiu um corte radical com todas as categorias da experiência anterior à reticulação do mundo. Mesmo aquelas que designamos como “redes sociais” nada têm a ver com aquilo com o que caracterizou até agora o social e, definidas por antigos critérios, poderíamos dizer anti-sociais. O imenso caudal de reflexões teóricas e análise de dados que têm como objecto a internet mostra que esta suscita visões contraditórias: por um lado, ela é portadora de um imaginário de emancipação e acesso livre generalizado ao saber e à informação; por outro, traz consigo o lado mais negro da barbárie tecnológica. Não basta dizer, utilizando a linguagem de Marcel Mauss, que a rede significou um facto antropológico total. É algo mais do que isso: a nossa condição de indivíduos constantemente conectados, determinou a viragem para uma antropologia do artificial e para uma condição pós-humana. Estar ligado à rede, em permanência, significa também ser continuamente interrompido e entrar no regime da comunicação desconexa e fragmentada. A economia e a ecologia da atenção tornaram-se, assim, questões maiores do nosso tempo. Mas as mais visíveis transformações operadas pela rede são as do próprio sistema capitalista: nas modificações das formas de trabalho, nas metamorfoses do poder (não apenas  o poder político, mas todo aquele que é hoje inerente a uma sociedade de controle) e, muito especialmente, num aumento colossal de mercadorias cada vez mais imateriais.”

António Guerreiro e João Oliveira Duarte in “Breve Léxico do nosso Tempo” – revista “Electra”, Março de 2018.

Pelas Sombras de Catarina Mourão na Galeria Arco 8


         Este filme foi realizado há oito anos pela Catarina Mourão e, à altura, ganhou o prémio do público no Indie Lisboa. São oitenta e três minutos a ver o mundo de Lourdes Castro, artista plástica oriunda da Madeira que viveu em Paris e em Berlim. A música do documentário é de Chopin e de Schubert. A realizadora, aquando da apresentação deste trabalho, referiu:"Um dia escrevi uma carta à Lourdes Castro porque gostava do trabalho dela e tinha uma enorme curiosidade pelo trabalho dela hoje". O filme é exibido às 21h30, na Galeria Arco 8, numa parceria entre o Museu Carlos Machado, 9500-Cineclube e o Arco 8. A sessão é gratuita ao público e conta com a presença da realizadora.

Galgar de Medeiros/Lucas

Rombos nas portas
Frinchas nos tectos
A brecha pela parede

Feito roto de acinte
Galga tudo de freio nos dentes,
Interessa pouco o que se ganhe
tampouco o que se enfrente

Bombos às portas
Ferros sem notas
Toada sem o revede

Feito pronto de ouvinte
Galga tudo aquilo que sente
Interessa pouco o que s´apanhe
Tampouco o que se tente

Nenhum pedinte de nada
Só desapego e galgada

Sente-se a leiva na veia
Sangue posto no peito

Tombos às sotas
Trotes querendo
Galope pela calada

Feito fogo urgente
Galga tudo aquilo que entende
Interessa pouco onde se chegue
Tampouco o que se pene

Rombo na porta
Um bombo sem nota
A brecha, o ferro e os trotes

Feito raio de acinte
Galga tudo de rédea ardente
Interessa pouco ou quase nada
Todo o que não se enfrente

Nenhum pedinte de nada
Só desapego e galgada

Sente-se a leiva na veia
Sangue posto no peito

Letra: João Pedro Porto