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sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Astrakan 79: Entre a Memória e a Fábula

   “Astrakan 79” é uma valente e agradável surpresa! Ainda não se sabia nada sobre o que se passava para lá da cortina de ferro, a Guerra Fria fazia o seu caminho ao impedir-nos de tomar contacto com essa realidade e do que existia para lá do Muro de Berlim, por isso viajávamos e vivíamos a ideologia sem saber muitas coisas. Quase nada. Pobres jovens politizados! Havia também quem alimentasse o sonho duma sociedade perfeita proveniente do Leste Europeu e dos respetivos amanhãs que cantavam. Entretanto, chegavam as primeiras experiências dos que lá tinham estado, mas havia sempre também quem desvirtuasse o conteúdo das afirmações de quem lá tinha andado.Inclusive, alguém que afirmasse a pés juntos que a propaganda ocidental era mais forte do que aquela que era alimentada pelo bloco socialista. 
Ver “Astrakan 79” é ser surpreendido pela sua sinceridade, até pela sua vontade em ficcionar um acontecimento marcante de uma pessoa como o Martim Santa Rita. Este trabalho sobre uma viagem de há quarenta anos à URSS, aliás, como qualquer trabalhando documental, é a constatação e evidência que neste processo há sempre uma boa parte de construção e efabulação. Sim, sabendo nós que a memória é uma construção contínua, incapaz de ser imune a qualquer reabilitação de factos e narrativas, como poderemos nós acreditar em factos vividos há largas décadas? Vemos, assim, Martim recordar na actualidade, isto é, com 58 anos, o período em que esteve na União Soviética, cerca de ano e meio, com 15 anos de idade. Os pais, militantes do Partido Comunista, viram com bons olhos a partida de Martim para o reino dos sovietes, augurando um futuro radioso junto de uma sociedade dita segura, com a promessa do cumprimento dos nobres ideais de uma sociedade socialista avançada. Durante ano e meio, Martim viveu na sociedade soviética as dificuldades de assimilação de uma cultura diferente, com os problemas inerentes à sua juventude: as paixões, os amores, a rebeldia, tudo foi possível experimentar, inclusive, a clandestinidade e a rebeldia. O dito "fracasso" ficou guardado na memória este tempo todo.
Daí o momento fulcral na "compreensão" deste documentário é o encontro no final entre pai e filho, quatro décadas depois daquela viagem iniciática. O filho, Mateus Santa Rita, tocador do som do mais grave dos instrumentos de sopro - o fagote - agradece o gesto e continua o legado, sabendo nós que qualquer escolha que façamos nunca é em vão ou que continua a ser fácil. A Olaria e a Música que o digam!

quinta-feira, 13 de outubro de 2022

"No País de Alice" de Rui Simões


    No País de Alice é um bonito filme! E, ultimamente, não abundam filmes bonitos! É um filme para todos aqueles que ainda gostam 
muito de Portugal, uma declaração de amor a este país antigo com séculos de história, um cartão postal apaixonado em forma de poema visual para um país que não desiste das suas raízes, que não renega, mas, sim, exalta a valorização do seu território periférico e que, por sinal, ainda não vacilou completamente perante uma globalização que tudo oblitera, uniformiza e condena ao desaparecimento.
Neste documentário de quase duas horas, o realizador socorre-se da sua filha para mostrar este bonito país que se recusa a desaparecer. Para dar conta desse testemunho, Rui Simões viajou com Alice para lhe mostrar uma paisagem rica e variada, que vai dos Açores a Pitões das Júnias, passa pelo Soajo, Aveiro, Idanha-a-Nova e Belgais, para depois se encerrar em Lisboa, por motivos do pesadelo inicial da pandemia da Covid-19. Mas nem só de história e tradição vive  este “No País de Alice” – essencialmente na força das filarmónicas e dos caretos – já que  também arrisca com os nómadas digitais que se afastam dos grandes centros para viver junto da natureza ou a ideia do guardião do tejo que usa as redes para denunciar a poluição, para lá da galeria de imagens e de afetos do fotógrafo Álvaro Rosendo, ainda a escola de música de Belgais, pela mão de Maria João Pires, que nos traz a arte de viver. E, por falar em música, nada mais imprevisto e entusiasmante do que seguir estas imagens acompanhadas pela sonoridade dos Dead Combo, na guitarra mítico-mágica de Tó Trips, para além do desfecho desesperante e sombrio pela voz de Nick Cave.
 Última nota para aludir que o filme foi exibido em antestreia nacional na sala 2 do Teatro Ribeiragrandense, e que, ainda dentro deste ciclo de documentários promovidos pelo Clube de Cinema local, exibirá já esta sexta-feira, outro belo e instigante documentário intitulado - “Les Açores de Madredeus”, de Rob Rombout que, à semelhança de Rui Simões, também ele, estará presente para falar com o público açoriano.  

quinta-feira, 16 de junho de 2022

"Lúcia e Conceição": A Vida Continua!

Fotograma de "Lúcia e Conceição", Fernando Matos Silva
Aqui: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/lucia-e-conceicao/
Fotografia de Carlos Melo 
    Aquela senhora que sorria e que estava sentada à minha frente num café da Ribeira Grande era a Conceição. Não tinha qualquer dúvida. Tirei a folha de sala da altura da sessão escolar, guardada numa mochila que transportava e, aproveitando para mostrar a uma outra pessoa, logo confirmei: o rosto, o olhar, o sorriso, as expressões eram as mesmas da adolescente que enfrentava a câmara do documentário do Fernando Matos Silva. O fotograma daquele documentário  tem 48 anos e as feições do rosto actual de Conceição pouco ou nada mudou. Aproximei-me e ouvi o que esta me contou do seu regresso para o descanso merecido na ilha que a viu nascer. Aqui ficará durante o verão para acompanhar as festas da sua freguesia. Contou-me, assim, que consumou o seu desejo de partir para o Canadá há meio século, que criou família, fez duas casas com o seu marido, que aprendeu línguas, que aprendeu a gostar de lá estar e viver. A vida, essa, continua.

domingo, 22 de maio de 2022

"Eden", de Daniel Blaufuks

 Logo a abrir este documentário de 64 minutos, realizado por Daniel Blaufucks e produzido por Fernando Vendrell, uma frase da condição de ilhéu fica a pairar: “O mar e o cinema eram as únicas formas de sair da ilha.” É, sem dúvida, este o mote para o que iremos ver e ouvir a seguir numa sala de cinema desabitada enquanto palco de memórias e nostalgia. O cenário? São Vicente, arquipélago de Cabo Verde
  È, assim, no cenário do já extinto cinema Eden, em São Vicente, Cabo Verde, que pressentimos a existência e a memória do que este foi e representou para os cabo-verdianos, sobretudo a sua história e suas ocorrências. É interessante, sobretudo, pelos depoimentos de pessoas que vivenciaram de perto aquelas “memórias”, a evocação dos títulos traduzidos e pelos cartazes dos filmes apresentados que se vão desfiando episódios e narrativas em tornos daquelas concorridas sessões. E, como não podia deixar de ser, o filme tem mornas, coladeira e imagens de arquivo!
    “Eden” é, portanto, um depósito de histórias de um cinema insular enquanto este foi fecundo e promissor…um verdadeiro cinema paraíso!

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

"Lúcia e Conceição": À Luz da Camelia Sinensis!

 

Ainda hoje o hábito contemporâneo do chá caracteriza-se por ser bebido às cinco da tarde numa chávena de porcelana. O chá terá sido introduzido nos Açores por via das naus e caravelas provenientes do oriente no século XVIII. Depois, foram chegando biólogos e botânicos que aprofundaram o conhecimento da planta camelia sinensis e tornaram o chá um fenómeno insular…até hoje!~

“Lúcia e Conceição” é um documentário produzido pela “Cinequipa”, um grupo de cineastas da RTP, liderada por Fernando Matos Silva. A realização do documentário “Lúcia e Conceição” ocorreu no ano de 1974, um ano antes da primeira emissão de televisão nos Açores, que teve lugar a onze de agosto de 1975.  Este documentário retrata as crianças e adolescentes que trabalhavam nas plantações de chá, na Gorreana, freguesia da Maia. A Fábrica da Gorreana é, ainda hoje, dos locais mais antigos da produção de chá na Europa, com data da fundação de 1893. Em 1974, à altura deste registo documental, o vencimento diário destes adolescentes que recolhiam a planta do chá situava-se nos 36 escudos diários. Era um período social e histórico duma zona rural marcada essencialmente por parcos recursos financeiros, pouca ou nenhuma mobilidade social e ausência de luz elétrica.

As adolescentes Lúcia e Conceição, que dão título à aventura cinematográfica em pleno momento do advento da democracia, falam, sobretudo, em emigrar para o Canadá, dada a ausência de trabalho remunerado na ilha. O pai de Conceição, agricultor e camponês, plantava nessa altura essencialmente milho e beterraba. O milho era um elemento fundamental para ser usado em casa para a feitura de massa sovada, depois de ter ido à moagem comunitária. Conceição tinha mais quatro irmãos, sinal de outros tempos em que os agregados familiares eram bem mais alargados. Os hábitos quotidianos, ao final de cada  dia destes adolescentes também, pois após os trabalhos duros na recolha do chá, ainda havia tempo para ler “romances de amor”, caprichos, publicações que deviam circular de mão em mão, dizemos nós. Os adolescentes retratados neste documentário tinham maioritariamente a quinta e a sexta classe da altura. Estes trabalhavam cinco meses na apanha do chá e depois deslocavam-se para mais dois meses na atividade da apanha do tabaco. Após visionamento do documentário, constatamos que estas crianças e adolescentes tinham como único horizonte continuar as profissões dos progenitores, sendo que eram raras para estes a oportunidade de prosseguir os seus estudos.  Este trabalho da apanha do chá era feito essencialmente pelas mulheres das zonas rurais, já que as da Ribeira Grande se apartavam dos labores agrícolas, e tão só a dedicação às atividades de costura e bordados, implicando por isso uma distinção com as mulheres das freguesias que se dedicavam à agricultura e demais lides domésticas. Quando se lhes pergunta pela alimentação que tinham em casa, estas desmancharam-se a rir. Porque será? A alimentação destas crianças e adolescentes que trabalhavam nas plantações de chá era feita sobretudo à base de peixe e batatas, apesar da abundância de vacas na ilha, sendo a carne para dias especiais.  

No início do documentário ouve-se ainda a voz do narrador assegurar que estes adolescentes nunca verão este filme e que por isso não terão oportunidade de fazer o seu autorreconhecimento. Passou entretanto quase meio século, o chá permanece naquele lugar como elemento essencial e motor da economia local. A vida das pessoas e das crianças, por sinal, mudou e bastante. O que dizer agora depois de vermos o filme tantos anos depois?

quarta-feira, 15 de abril de 2020

"Tarrafal": documentário de Pedro Neves


             Todos nós sabemos que o género de documental não é potenciador de grandes audiências em salas de cinema. Aliás, o seu interesse e curiosidade em vê-los em sala resulta do imenso trabalho e muita persistência dos festivais de cinema que trouxeram este género cinematográfico de novo para a ribalta. Em Portugal, a situação não é muito diferente, ainda que cada vez haja mais documentários a estrear e alguns chegam mesmo a permanecer uma ou duas semanas em exibição. Dado esse crescente interesse, há, por isso, um aumento da produção de documentários bem como o interesse demonstrado por jovens cineastas em aproximar-se deste tipo de trabalhos. Daí que o documentário português tem sabido criar o seu espaço e fidelizar uma nova franja do público interessada no conhecimento da realidade portuguesa. 
Por isso, quem quiser ainda pode assistir a “Tarrafal”, documentário do portuense Pedro Neves, que está disponível na RTP2 Play. Para quem nada sabia do trabalho anterior do cineasta, digamos que se trata de uma inusitada e, por que não afirmá-lo, de uma entusiasmante descoberta! Pedro Neves sabe filmar os corpos, os esquecidos, melhor, os deserdados deste mundo! Há por aqui muito trabalho, muita dedicação e grande energia em filmar a vida e o que resta dela. É um cinema em estado puro, inteligente e indomável!

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Cinema Trindade, Porto. (Até dia 11-16h00 e 18h00)


“Aqui salienta-se a estreia, esta semana, de “Hálito Azul” de Rodrigo Areias. O cineasta e produtor de Guimarães partiu para os Açores e centrou-se em Ribeira Quente, povoação do sudeste de São Miguel. Areias faz um retrato abrangente daquela aldeia piscatória, usando como mote, ou contraponto, “Os Pescadores”, de Raul Brandão, texto que está a ser encenado, de forma experimental, pelo professor da escola local, com habitantes da aldeia. O filme destaca-se, em primeiro lugar, pela magnífica qualidade fotográfica, a cargo de Jorge Quintela, um dos mais talentosos diretores de fotografia da nova geração. Há uma riqueza tonal e de enquadramentos, que inclui filmagens em alto-mar e até sub-aquáticas. Depois, vale pelo sentido de proximidade. O realizador consegue dar-nos uma sensação de intimidade com aquelas pessoas, mais própria da ficção, como se a conhecesse desde sempre. Por fim, há um lado transgressor, experimental, de fronteira do género, que resulta muito bem, sobretudo através da força da interpretação de Zeca Medeiros. Um belíssimo documentário.”
Manuel Halpern, Revista Visão, 28 de Novembro de 2019

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Hálito Azul em Locarno

Hálito Azul de Rodrigo Areias 
(Daqui https://www.bandoaparte.net/)

                  Hálito Azul de Rodrigo Areias será exibido pela primeira vez na secção First Look da 71ª edição do festival internacional de Locarno. O Festival acontece em Locarno, na Suíça,  entre os dias 1 e 11 de Agosto.

SINOPSE

           Esmagada contra o oceano pela encosta de um vulcão, a freguesia piscatória da Ribeira Quente na ilha de S. Miguel nos Açores vive os últimos dias de uma actividade piscatória tal como a conhecemos. A vida continua mesmo com o peixe a escassear enquanto todos lutam por dias normais. 

terça-feira, 12 de junho de 2018

Vinho de André Laranjinha



           André Laranjinha filma o nosso mundo, esta realidade que nos está próxima e que vai desde o pão, ao vinho, aos muros de pedra, à matança do porco, até à ilha, por vezes pessoal e transmissível, de quem aqui aportou. Neste documentário intitulado “O Vinho”, quase uma hora de imagens em movimento, resultado de várias visitas à Ilha do Pico, o realizador mergulha nessa crosta de lava no meio do oceano Atlântico, à procura das vinhas que estão espetadas na terra e cuidadas pelos seus guardiões. 
Num registo demorado, mas escorreito, vamo-nos apercebendo da alteração das estações, documentando o gelo da grande montanha no inverno, ao surgimento das primeiras folhas e da enxertia necessária sempre com a presença dos homens no tratramento da vinha, que é tudo menos fácil. A uva vingou numa terra difícil que resiste ao cultivo, demasiado áspera e propensa aos elementos, daí o prodígio do vinho nessa ilha conhecida por homens que bebem e celebram a existência desse precioso líquido. Uma boa parte do filme é passado em adegas, nessas arrecadações onde se deposita e protege o vinho, a aguardente, os licores, mas também pontos de encontro com portas escancaradas ao debate, à reunião e à música, ou somente ao resguardo no final de mais um dia de canseiras e afazeres. Um documentário com ilhéus dentro. 

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Pelas Sombras de Catarina Mourão na Galeria Arco 8

  Este filme foi realizado há oito anos pela Catarina Mourão e, à altura, ganhou o prémio do público no Indie Lisboa. São oitenta e três minutos a ver o mundo de Lourdes Castro, artista plástica oriunda da Madeira que viveu em Paris e em Berlim. A música do documentário é de Chopin e de Schubert. A realizadora, aquando da apresentação deste trabalho, referiu:"Um dia escrevi uma carta à Lourdes Castro porque gostava do trabalho dela e tinha uma enorme curiosidade pelo trabalho dela hoje". O filme é exibido às 21h30, na Galeria Arco 8, numa parceria entre o Museu Carlos Machado, 9500-Cineclube e o Arco 8. A sessão é gratuita ao público e conta com a presença da realizadora.

segunda-feira, 12 de março de 2018

"I Don´t Belong Here" no Teatro Micaelense


“I Don’t Belong Here” já foi uma peça de teatro e agora adquiriu nova vida através do documentário, pela mão do realizador Paulo Abreu. O lugar da estreia/apresentação foi este fim-de-semana na sala do Teatro Micaelense, na cidade de Ponta Delgada. Em dois dias, sexta e sábado, duas sessões, com direito também a sessão para as escolas. E, pela pertinência e atualidade do tema, o público aderiu à chamada com os autores presentes no final da apresentação para debate.
Desde 2013 que um grupo de pessoas (Dinarte Branco, Nuno Costa Santos, actores e a própria direção do teatro) esteve envolvido neste processo criativo que viria a dar origem a uma peça de teatro. O realizador Paulo Abreu acompanhou e deu conta dos ensaios, ao mesmo tempo filmou as experiências pessoais dos intérpretes presentes nesta viagem em que o mote é o lugar de pertença. Desta feita, os intérpretes de “I Don´t Belong Here” são cidadãos oriundos dos EUA e do Canadá que, após cumprida pena de prisão, são deportados para os Açores, vivendo assim uma “nova vida” afastados do lugar onde cresceram ou fizeram uma boa parte das suas vidas.
O documentário de 76 minutos está focado nos intérpretes da peça, desde o período de ensaios e à digressão pelos lugares por onde esta passou, até mesmo às impressões pessoais que cada um deles vai fazendo nos sítios da digressão. Estas pessoas narram aqui as suas histórias de vida bem como revelam a sua reintegração social a que estão submetidas. O realizador partilha com a audiência os diferentes monólogos e diálogos do grupo, mostra esse momento de alegria e evasão que estas pessoas obtiveram ao fazer parte deste processo. 
Paulo Abreu é cúmplice desta coragem ao expor uma realidade que, certamente, muitos deles queriam há muito esquecer. A vantagem deste trabalho documental pode vir muito do reconhecimento do absurdo desta situação ou do esclarecimento da existência desta realidade. E, pelo meio de tudo isso, a beleza, o ritmo e delicadeza dum trabalho documental muito bem feito!

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Documentários: A Arte está na Rua!

Hoje estreia nas salas portuguesas dois documentários que nos propõe uma reflexão sobre a Arte: “Beuys” de Andres Veiel e “Visages Villages” de Agnès Varda e Jr.“Beuys” dá-nos a ver a vida e obra do artista alemão, Joseph Beuys, após três décadas do seu desaparecimento. O realizador Andres Veiel conseguiu um vasto arquivo de imagens inéditas do artista que ficaria imortalizado com o seu chapéu de feltro. Joseph Beuys, para alguns considerado um artista visionário, acreditava que a arte devia chegar a todos ao mesmo tempo, daí ter plantado sete mil carvalhos com sete mil pedras espalhadas por Kassel, Alemanha. “A provocação faz com que qualquer coisa ganhe vida” dizia o artista/activista que fazia questão de manifestar a sua ideia de arte revolucionária por esta ter origem na criatividade, ao influenciar o aparecimento da democracia bem como o alargamento do conceito de arte a vários contextos e camadas sociais.
A partir da ideia de colar retratos em grande escala nas paredes ou mesmo em outros suportes, a realizadora Agnès Varda(88 anos) coassina com o fotógrafo e muralista Jr (33 anos) o documentário “Visages Villages”. A autora de “Os Respigadores e a Respigadora” e o fotógrafo viajaram pelo interior da França em busca dos seus novos protagonistas, retomando o gosto de ambos pelas imagens e pela arte do encontro.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Clarissas de André Laranjinha, hoje à noite, no 9500 Cineclube

Hoje no Cine Solmar, às 21h30

Sinopse do Filme:
 

        Esta curta metragem centra-se no Mosteiro de Nossa Senhora das Mercês, nas Calhetas de Rabo de Peixe, fundado a 2 de janeiro de 1977 por irmãs Clarissas vindas da ilha da Madeira. O mosteiro terá sido construído a partir da casa e da ermida de Nossa Senhora das Mercês e dos terrenos que foram doados à Igreja por António Medeiros Frazão e Maria Leonor Frazão. Antes da extinção das ordens religiosas, em 1832, a Ordem de Santa Clara teve um importante papel nos Açores, havendo inúmeros mosteiros e conventos da Ordem Franciscana feminina.Depois de um século e meio de ausência, a ordem voltou com a criação deste mosteiro, que é agora o único de vida contemplativa e de clausura nos Açores. Neste mosteiro vivem atualmente oito irmãs em clausura, que dedicam o seu quotidiano à oração e ao trabalho, realizam tarefas domésticas, trabalham na horta e no jardim, tratam dos animais e fazem hóstias para toda a comunidade religiosa católica dos Açores.


Genéro: Documentário. Duração: 28 minutos. Ano de realização: 2016

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Walk and Talk: A Família de Arquitectos Bohem!

"Concrete Love  The Boehm Family" dMaurizius Staerkle-Drux
       
    Uma dinastia familiar de arquitectos projectada na tela da sala de cinema do Solmar, inserido num festival de arte urbana - Walk and Talk com a ajuda do 9500-Cineclube - que nos concede este privilégio de ver e pensar. Um filme sobre o amor e dedicação a uma disciplina que se confunde com a poesia. Uma ode à arte de bem filmar e narrar uma história de filiação na arte de projectar: a arquitectura. Uma obra prima. Há dias assim em que apenas podemos contemplar. Viver para contemplar. 

quarta-feira, 19 de março de 2014

"Meu Pescador, Meu Velho" no Alpendre.


Meu Pescador, Meu Velho dia 20 no Alpendre
(Cine-Eco com extensão à Ilha Terceira pelo Cine-Clube)
  Amaya Sumpsi não faz parte dos conhecimentos deste escriba, tão pouco os pescadores de Porto Formoso, da Ilha de São Miguel. Não há também qualquer interesse escondido em promover ou divulgar este documentário, somente partilhar e querer estar próximo desta gente. No entanto, é caso para dizer que este foi o "o filme de 2013". Porventura, o filme surpresa, visto e apreciado nestes últimos tempos ou aquele que mais emoções causou. No fim deste filme a questão foi feita muitas vezes: para que serve a arte ou para que serve o cinema documental se não for para dar conta das pessoas que vivem em tempo real, isto é, que nos dê  a "ver" estes tempos conturbados que nos encontramos a passar e…a sofrer? Diversas vezes se questionou o facto de podemos ou não chorar quando vemos filmes com esta força e intensidade, com este poder de nos tocar e surpreender. Meu Pescador, Meu Velho é um documentário de uma riqueza por vezes indescritível e com um valor que podemos mesmo não estar à altura de corresponder. Portugal podia ter aprendido com "Os Pescadores" de Raul Brandão, escrito em 1923 e, quem sabe, talvez ainda possa aprender com este gesto de Amaya Sumpsi. Poucos filmes conseguiram ir tão longe e tão perto nessa busca da verdade  sobre o que cada um traz dentro de si. É certo que foi feito em sete anos, tempo suficiente para construir uma casa, mas que ainda assim vale a pena escutarmos o que estas pessoas nos dizem - e muito! - bem como guardar o legado e o lastro que este filme nos deixa para construirmos outro presente que não este. Ou, simplesmente, a alegria de estarmos vivos! 

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

“Corre, Emanuel, Corre”: Foi Tão Bom que Não me vou Esquecer!


“Corre, Emanuel, Corre” é, em primeiro lugar, um filme de alguém que se expõe não do ponto de vista biográfico mas sim a partir de uma perspectiva artística comprometida e vigilante face ao desenrolar da vida individual, social e das cidades. E que para isso são necessários sentidos sintonizados com a natureza circundante, antenas atentas que estão no centro da existência onde é essencial ver, ouvir, tocar, sentir, gostar e em que nada, nada mesmo nos é passivo ou indiferente. Aqui, Maria Emanuel Albergaria, cidadã e antropóloga, permite que a câmara capte o seu mundo e aí instale uma visão muito pessoal e criativa do seu ideário estético. A partir de várias fotografias obtidas na ilha de São Jorge, constrói-se um programa de registar esse processo interno de bloqueio/libertação vivencial e onde está presente a floresta/natureza como elemento de inquietação/pacificação e do qual este trabalho é processo ou resultado final.
Fotograma de "Corre, Emanuel, Corre"
Inspirado na exposição/instalação "Uma Casa na Floresta”, o projecto documental nasce dessa pulsão de registar o que foi a superação desses bloqueios interiores, acompanhando esse desejo adulto e fermentado de regressar a um olhar pueril e inocente, ultrapassando as barreiras exteriores convertidas em muros, cancelas, troncos de árvores em forma de metáfora. Daí o regressar às nossas porosidades e sensações mais íntimas e primárias, às memórias mais longevas e fecundas num universo poluído de simulacros e proliferação abundante de imagens, carregado que está de confusão e ruído e onde é já quase impossível pensar e sentir. A realização da exposição/instalação numa casa bem citadina, por sinal desabitada, coloca também uma interpelação ao nosso desapego pelo que ficou de vida e memória nesses centros desabitados, inquirindo até que ponto ganhamos com prédios incaracterísticos na periferia das nossas cidades quando a arquitectura por ali carece de ser (re) construída. 
Por fim, destaque-se ainda a fulgurante entrada musical deste documentário, sendo o som um elemento primordial ao longo destes quinze minutos, muito devido ao contrabaixo de Gianna de Toni e da viola de Arco de Ernesto Rodrigues, anunciando deste modo que estamos perante um trabalho colectivo de invulgar empatia entre os envolvidos, resolvida que ficou a partilha de autoria entre Emanuel Macedo e Bruno Correia, num trabalho bastante cuidado e justo face ao enquadramento dos sons com os diferentes registos de imagens, para além do movimentado vídeo de João Pedro Plácido e André Laranjinha. Este filme foi produzido pela "Tripolar" com o 9500 Cineclube, a Cresaçor e a RTP-Açores como Produtores Associados e recebeu o Prémio do Público no Faial Fim Fest 2011.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

"Meu Pescador, Meu Velho" de Amaya Sumpsi


        Amaya Sumpsi é uma madrilena que o acaso atirou para os Açores e mais concretamente para ilha de São Miguel. Licenciada em Realização de Cinema e Televisão pela Escuela Superior de Artes y Espectáculos vem viver para Ponta Delgada em 2002 enquanto membro das Criações Periféricas, responsável pelo laboratório de fotografia e na organização de eventos. Este documentário “Meu Pescador, Meu Velho” é, sem qualquer dúvida, um olhar afortunado e deslumbrado pelos pescadores de Porto Formoso, uma visão de alguém que gostou de aqui chegar e descobrir-se nessa aproximação que agora pode ser vista por quem quiser. À semelhança do escritor Raul Brandão, que há noventa anos se deixou apaixonar pela paisagem açoriana, Amaya Sumpsi enamorou-se pela baía e, sobretudo, pelas gentes de Porto Formoso. A história do filme - com uma fotografia cuidada e uma música atinente - abre com o início do projecto e em que, após uma noite de Carnaval de 2005, uma enorme onda desfez os “boca aberta” do mestre Eiró e do mestre Américo. Estranhamente, com ajudas institucionais gera-se a construção de novas embarcações e maiores, no entanto o porto de areia é residual e impróprio para varar os barcos. Os pescadores passaram assim a reivindicar uma doca em cimento para que a sua chegada fosse possível nas melhores condições, gerando alguma contestação entre os moradores que acreditam que a beleza natural do porto e as ruínas do castelo que ali se encontram são o verdadeiro foco de beleza e atracção turística do lugar. A realização do documentário apanha as várias fases da construção do porto e capta assim a passagem do tempo e o que se foi alterando com os diferentes intervenientes no processo.
         “Meu Pescador, Meu Velho” é um belíssimo fresco para compreender o sentido álgico das gentes do mar de Porto Formoso da Ilha de São Miguel e uma pertinente lição de como se consegue, pode e se deve filmar rente às pessoas que não conhecemos e que nos podem dizer e contar tanto sobre a vida e sobre a realidade social em que vivemos. Inesperado é aquele o diálogo entre o velho e o jovem pescador que daria uma importante tese de mestrado sobre o património material da humanidade e a sua relação com a vida das comunidades. Amaya sentiu aqui o apelo de deixar a conversar correr, fluir, pois ao constatar que é afinal o jovem que está do lado do património (as ruínas, neste caso) ganha em perspectiva e agiganta este seu empenho, esforço e dedicação aos seus sete anos de existência confinados à feitura deste documentário. Felizmente, o Teatro Micaelense encontrava-se preenchido para assistir à apresentação deste riquíssimo e valioso trabalho documental que teve o mais que devido  reconhecimento e  as devidas loas e agradecimentos.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Varadouro

 "Varadouro", de Paulo Abreu e João da Ponte
    Quem viu o documentário “Adormecido” de 2012 - interessante e exaltante poema visual e sonoro à volta do vulcão dos capelinhos – sabia de antemão que alguma coisa de maior poderia estar em germinação. Por isso, assistir à sessão inicial de Novembro do cineclube de Ponta Delgada e, concretamente à apresentação pública de “Varadouro”, só podia confirmar os melhores augúrios. 
          “Varadouro” é o segundo filme de Paulo Abreu filmado em solo açoriano e novamente na Ilha do Faial, revelando desta feita uma descomunal sensibilidade na captação da pulcritude dos espaços insulares e dos sons da “natureza extrema” que habitam esta ilha e de que o arquipélago é pródigo. É claro que muitas das instigantes soluções videográficas do “Brel nos Açores”, espectáculo de Nuno Costa Santos, pertenciam já a Paulo Abreu, confirmando assim o seu sentido estético e desalmado gosto pela experimentação, para lá do risco que as paisagens e os barulhos insulares lhe sugerem. Este documento fílmico apresenta somente dez minutos de contemplação dessa piscina natural, desde o azul do atlântico até às suas profundezas, e, na verdade, é como se estivéssemos deleitados na capital de veraneio faialense, em plena costa ocidental, acompanhados por ilhéus a banhos, numa paisagem formada por rochas basálticas de lava incandescente e a memória de forasteiros de relevo que por ali passaram (Jacques Brel esteve lá em 1974, ou ainda sir Peter Ustinov e o escritor Mark Twain), acrescentando-lhe narrativas e ensejos pícaros com essa evocação. No fundo, tal como eles, é fácil deixar-se encantar por aquela fajã de clima ameno, quase tropical e dada a novos arrastamentos, à semelhança da vida do caracol, o popular tema musical açoriano cantado aqui pela excelsa voz do terceirense Carlinhos Medeiros. Este objecto cinematográfico contou ainda com a colaboração na realização de João da Ponte, conhecido cineclubista micaelense, tratando-se dum contributo desta dupla para o Doc´s Kigdom, seminário internacional sobre cinema documental realizado recentemente na Ilha do Faial. Por fim, “Varadouro” obteve os contributos solares e presenças mitológicas de Norberto Serpa, Tiago Afonso, Maria Emanuel Albergaria, Frederico Lobo, André Laranjinha, Sérgio Gregório, João Pedro Gomes, Tomás Melo e Aurora Ribeiro. E é bem provável que, com a ajuda dos cineclubes, este  postal do estio com sabor a documentário, seja exibido numa sala bem perto de si.