André Laranjinha filma o nosso mundo, esta realidade que nos está próxima e que vai desde o pão, ao vinho, aos muros de pedra, à matança do porco, até à ilha, por vezes pessoal e transmissível, de quem aqui aportou. Neste documentário intitulado “O Vinho”, quase uma hora de imagens em movimento, resultado de várias visitas à Ilha do Pico, o realizador mergulha nessa crosta de lava no meio do oceano Atlântico, à procura das vinhas que estão espetadas na terra e cuidadas pelos seus guardiões.
Num registo demorado, mas escorreito, vamo-nos apercebendo da alteração das
estações, documentando o gelo da grande montanha no inverno, ao surgimento das primeiras folhas e da enxertia necessária sempre com a presença dos homens no tratramento da vinha, que é tudo menos fácil. A uva vingou numa terra difícil que resiste
ao cultivo, demasiado áspera e propensa aos elementos, daí o prodígio do vinho nessa ilha conhecida por homens que bebem e celebram a existência desse precioso líquido. Uma boa parte do filme é
passado em adegas, nessas arrecadações onde se deposita e protege o vinho, a
aguardente, os licores, mas também pontos de encontro com portas escancaradas ao debate, à
reunião e à música, ou somente ao resguardo no final de mais um dia
de canseiras e afazeres. Um documentário com ilhéus dentro.
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