terça-feira, 2 de julho de 2013
Ontem escrito numa parede da cidade
"Uma vez deparei-me com o silêncio de um peixe. Ainda hoje o sinto a gorgulhar..."
Bailão Musical
O preconceito é sempre uma ideia,
uma imagem, um conceito pré-adquirido que resulta da ignorância ou de falta de
conhecimento. Esta medida podia-se usar, por exemplo, quando habituado que
estamos aos papos secos da mercearia pela manhã esta passa a ter, por exemplo,
bolos lêvedos ou carcaças. Para além de incompreensível, toda a gente começa de imediato a questionar a
inexistência dos típicos e tradicionais papos-secos e o porquê dessa nova coisa
requintada e única dos bolos lêvedos, sem que alguém saiba as razões desta
súbita alteração. Isto vem a propósito da alteração e composição do programa de
bandas deste ano nas Sanjoaninas 2013, um programa de contenção económica,
aberto às novas tendências da nova música portuguesa, e que não atraiu
multidões e que, provavelmente, pode não ter sido muito famoso do ponto de vista
comercial. No entanto, convirá questionar o grande público sobre a curiosidade
e os caminhos que este toma sempre que alguém decide romper com o que está
estabelecido ou apresentar alguma coisa nova. Não é fácil agradar a todas as
faixas etárias, nem as diferentes camadas da população, por outro lado o momento de crise
requeria um outro entendimento dos preços gerais ou bilhetes apenas para uma noite.
Parece-nos exagerado para um programa musical sem grandes "estrelas" que se exija
trinta e cinco euros para o bilhete geral (e anda bem que se fez a promoção dos 25 euros), o mesmo se pode dizer que nos parece excessivo pedir para uma noite dez euros por “Macacos do Chinês” e “Paus” ou “October Flight” e “X-Wife”.
Não se trata destas bandas terem ou não valor de mercado, o valor é mesmo musical, mas sim por que estas
ocupem nichos de mercado bastante segmentados e querer que o grande público sem grandes referências,as
descubra por essa quantia, parece-nos no entanto exagerado. Cinco euros por noite seria a quantia módica que muito gente parecia disposta a dar e contribuir
para esta grande festa musical pautada pela diferença e pela descoberta.
Deixando de lado essas questões
do foro das movimentações de massa e de cariz profundamente económico, o
balanço musical é bastante positivo e promissor pois é necessário podermos ouvir
os temas hipnóticos e vibrantes dos “X-Wife”, as viagens etéreas dos “Paus” ou
“Salto”, as canções e a folia dos “Diabo na Cruz”, bailar e cantar com os
“Ronda da Madrugada”, reviver os temas arrebatados e incandescentes dos Sétima
Legião e terminar com o reggae teso e esfoliante de "Patrice". Se é certo que estas bandas não encham recintos ou pavilhões, creio que o valor pedagógico que esta festa
musical possa ter tido, foi assim ter dado a possibilidade e oportunidade de podemos
ouvir e dançar ao som destas músicas. E, acreditar, acreditar sempre que a
curiosidade e a vontade de descobrir resistirá ainda mais algum tempo.
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