sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Poema d´Estio

Ao Gosto


Lábios gretados de sol e outras sequidões
conservadas por insónias, aleijões, do alento renascer,
(aviso-vos esta nota é importante)
livros e discos carregados de pó nas estantes e agulhas,
o retomar de  faixas e frases ditas obsoletas,
como o peso das aranhas nas frinchas do passado,
antigo desabotoar de neblinas pela teia da nortadas,
por instantes só canícula e azul marinho nomeados,
condimentado Agosto na polpa dos seios descoberto,
encobrem-se dedos na areia, 
o deslizar dos dias,
em trigueiro sobressalto da nudez acalorados.

Believer

Frank Möbus (Fotografia: Margarida Quinteiro)
    Pode-se accionar o serviço laudatório e discorrer sobre as maravilhas da audição de um disco de que gostamos ou então num dos que nos vamos focando de forma febril, despendendo toda a nossa atenção e em que perdemos todo o tempo do mundo, mas, porventura, a grande música, já agora também o teatro, o cinema, a poesia que nos diz particular respeito, são aquelas que interrogam o nosso mais profundo desejo de termos sido nós os criadores daqueles temas ou objectos artísticos. A música pela sua capacidade evocativa consegue mais facilmente esse feito, pois pela sua rápida difusão e sua instantânea partilha, torna-se efectiva no que toca ao comungar das emoções mais díspares. Há dias na (re) audição do tema Believer, do Carlos Bica &Trio Azul, o êxtase sentido foi análogo ao obtido durante a primeira escuta do tema em concerto ao vivo, o que atribui  ao tema um carácter único e especial. Quem não gostaria de estar no lugar dos músicos Frank Möbus, Jim Black e Carlos Bica ou, muito simplesmente, ter "inventado" este Believer?