Desconfia-se que o conhecimento da existência dos Durutti Column possa ter sido adquirido após uma leitura do Blitz nos idos anos oitenta. Porventura, no meio da enxurrada dos Joy Divison, The Gist, Young Marble Giants, The Clash, U2 ou os The Smiths e, ainda de uma catrefada de bandas ouvidas na altura até à exaustão, julgo ter chegado à guitarra maravilhosa e ondulante da banda do fantástico magriço Vini Reilly e aos seus Durrutti Column.
Chegam, entretanto, notícias que o próprio Vini Reilly passa no actual momento uma situação de fragilidade física – três derrames cerebrais – que motivaram uma enorme fragilidade financeira, acrescida à inoperância do sistema de segurança social inglês que demorou dezoito meses a prestar apoio à sua doença. Um periodo de tempo quase idêntico à aparição dos discos nos escaparates que se faziam por esse mundo fora nos idos anos oitenta. O que vale é que uma onda de solidariedade ajudou o músico a suportar as despesas, sendo que este já veio agradecer e propor-se a retribuir a ajuda com material sonoro da sua autoria. Humilde e honesto, como o dedilhar da sua guitarra.
Capa do disco "Amigos em Portugal" |
Sei que não abona nada a meu favor nunca ter assistido a nenhum concerto dos Joy Divison, U2, Echo and Bunnymen, ou osThe Smiths, bandas que circulavam abundantemente em cassetes pelos diferentes aparelhos sonoros anos a fio, mas a verdade é que raramente falhei aos concertos dos Durruti Collumn nas suas aparições em Portugal. E, como é viva e intensa, a memória vivida desses concertos. No final, ficava à espera pela sua saída para estender-lhe os bilhetes para ele autografar bem como cheguei a dar-lhe as páginas do livro “Escrítica Pop”, onde o Miguel Esteves Cardoso assinava as crónicas de puro deleite e encantamento sobre o grupo de Manchester. Ele sempre com a maior das delicadezas e bonomia agradecia, com humildade despedia-se, prometendo voltar. Lembro-me da imagem de Vini Reilly ser sempre de uma enorme fragilidade física e delicadeza, sobretudo na forma como dedilhava a sua guitarra e se posicionava no palco. A suportá-lo naquele cenário via sempre um homem bojudo e sorridente, como era o caso do baterista Bruce Mitchel. No final de um concerto subi o palco e, enquanto ele recolhia os cabos das suas guitarras, disse-lhe que o Robert Fripp tinha afirmado ser ele o melhor guitarrista do mundo. Ele, na plenitude da sua humildade, disse-me: “Fripp is crazy!”. Outra vez, num festival em Torre de Moncorvo, o Carviçais Rock, desejei-lhe boa sorte para o concerto, com o que ele ripostou com um sorridente;“It´s jus one gig”. A economia de palavras era uma particularidade sua, bastava para isso assistir aos seus temas cantados na sua voz comedida e frágil, ao longo de mais de trinta discos editados. Num dos seus últimos concertos no Coliseu do Porto, a que curiosamente não pude assistir, pedi para que lhe entregassem uma colecção de postais bem como o nosso livro - “Construções na Areia”. Não sei se alguém fez chegar esse material em jeito de presente e que pretendia ser um agradecimento pelas três décadas de músicas que nos ofereceu e que nos tem acompanhado. E talvez, por instantes, só me apetece gritar: “It´s just one more gig!”