Amaya Sumpsi é uma madrilena que o
acaso atirou para os Açores e mais concretamente para ilha de São Miguel.
Licenciada em Realização de Cinema e Televisão pela Escuela Superior de Artes y
Espectáculos vem viver para Ponta Delgada em 2002 enquanto membro das Criações
Periféricas, responsável pelo laboratório de fotografia e na organização de
eventos. Este documentário “Meu Pescador, Meu Velho” é, sem qualquer dúvida, um
olhar afortunado e deslumbrado pelos pescadores de Porto Formoso, uma visão de alguém que
gostou de aqui chegar e descobrir-se nessa aproximação que agora pode ser vista
por quem quiser. À semelhança do escritor Raul Brandão, que há noventa anos se deixou
apaixonar pela paisagem açoriana, Amaya Sumpsi enamorou-se pela baía e, sobretudo,
pelas gentes de Porto Formoso. A história do filme - com uma fotografia cuidada e uma música atinente - abre com o início do projecto
e em que, após uma noite de Carnaval de 2005, uma enorme onda desfez os “boca
aberta” do mestre Eiró e do mestre Américo. Estranhamente, com ajudas
institucionais gera-se a construção de novas embarcações e maiores, no
entanto o porto de areia é residual e impróprio para varar os barcos. Os
pescadores passaram assim a reivindicar uma doca em cimento para que a sua
chegada fosse possível nas melhores condições, gerando alguma contestação entre
os moradores que acreditam que a beleza natural do porto e as ruínas do castelo
que ali se encontram são o verdadeiro foco de beleza e atracção turística do
lugar. A realização do documentário apanha as várias fases da construção do porto e capta assim a passagem do tempo e o que se foi alterando com os diferentes intervenientes no processo.
“Meu Pescador, Meu Velho” é um belíssimo
fresco para compreender o sentido álgico das gentes do mar de Porto Formoso da Ilha de São Miguel e uma pertinente
lição de como se consegue, pode e se deve filmar rente às pessoas que não
conhecemos e que nos podem dizer e contar tanto sobre a vida e sobre a
realidade social em que vivemos. Inesperado é aquele o diálogo entre o velho e
o jovem pescador que daria uma importante tese de mestrado sobre o património material da humanidade e a sua relação com a vida das comunidades.
Amaya sentiu aqui o apelo de deixar a conversar correr, fluir, pois ao
constatar que é afinal o jovem que está do lado do património (as ruínas, neste
caso) ganha em perspectiva e agiganta este seu empenho, esforço e dedicação aos
seus sete anos de existência confinados à feitura deste documentário. Felizmente, o
Teatro Micaelense encontrava-se preenchido para assistir à apresentação deste riquíssimo
e valioso trabalho documental que teve o mais que devido reconhecimento e as devidas loas e agradecimentos.