quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Três poemas de Rui Duarte Rodrigues

Teresa nome triste

Há silvas e amoras
no teu olhar

pelos teus lábios passou já uma vindima
E há uma tristeza grande
abatida sobre o teu rosto

falas de coisas cansadas em voz baixa
como se o inverno não acabasse
e a miséria não tivesse fim

fico ao lado de ti sem saber
remando com cuidado por entre estrelas
para não dissipar a noite
e o mais breve sinal de alegria


Coração Menino

Tenho
Um coração menino, um coração
pra chorar sozinho

Gastei o coração nestas pedras húmidas
e os olhos deixaram de ver o mar,
fecharam-se numa casa pra morrer

 Preciso um mergulho profundo
e prolongado, um lugar de ternura mãe
dentro da manhã

Um fio,
um cabelo
contra
o medo e a loucura

 Mui açoriana manhã

Ah esta mui açoriana manhã
De prata embaciada, à espera de chuva
Pequeno véu de azul no horizonte
               vela fugitiva

Respiro fundo
Que rumo dar às coisas desse dia
Que apenas promete agastamento? Os olhos
querem fechar-se à luz diluída
              e prematura
a vontade é dispensar o calendário

Ah esta mui açoriana manhã
Serra mecânica, operária
cortando o  ar, fanfarra militar (que dia
                     é este
           que contém alguma celebridade?)
ruídos todos embrulhados nesta película
deslavada, pastel sem brilho
à espera de chuva

Rui Duarte Rodrigues, in “Com Segredos e Silêncios”, Colecção Ínsula, 1994

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