Fotografias: (www.agnesjuten.com) |
Agnes Juten está a expor, desde o dia 20
de Fevereiro até 10 de Abril (termina esta sexta-feira), esculturas e desenhos na Casa Manuel de Arriaga,
na cidade da Horta, Ilha do Faial. São desenhos e esculturas muito recentes,
alguns trabalhos realizados para o efeito, intitulados de “Novas Obras”, que a
artista elaborou, imaginou e concebeu no seu atelier da rua Visconde de Santana, nº7. Há
quase meio século que o seu gesto escultórico se repete, confirmando e
renovando o seu percurso de artista visual a partir de objetos que
quotidianamente cria, (re) inventa e constrói. Agnes Juten é uma artista
plástica, holandesa, radicada na Horta, com um longo percurso e pergaminhos, os
quais mais uma vez teremos a oportunidade de apreciar neste conjunto
considerável da sua vasta obra.
Numa sala algo minúscula, amontoada de
materiais de outras exposições ou objectos, provavelmente à espera de serem
usados, ela vai também desenhando, realizando esboços e outras intenções que se
concretizarão enquanto combinação de materiais e formatos, ou simplesmente
desenhando traços, revelando as figuras e formas de um conjunto de objectos à
espera da arte final ou trabalho conceptual. Este trabalho diário de agregar
técnicas e moldar objectos faz com que sejam vários os objectos que se
disponibilizam às suas mãos, se submetam à sua inventividade, à curiosidade, e ainda
ao enorme rigor criativo envolvido da sua parte. Desta relação com os materiais
constam essencialmente o ferro, a madeira, o arame, alguns invólucros de
produtos, pegões e afins. Agnès ousa assim romper com a normalidade, com o
frágil equilíbrio que nos sustenta, daí que cada vez que usa um nome para um
objecto, atira-nos com nomes como “Suporte”, “Movimento”, “Deitado”, “Declive”,
“Avalanche”, “Pegão” ou outras estruturas sujeitas a limites como “Linha
Vermelha” ou mesmo “Ilha”. É dessa forma que arrisca este quebradiço equilíbrio
que nos sustenta, permitindo-se mesmo iluminar a escuridão por detrás de si,
interrogando os caminhos da arte, do seu tempo, evidenciando num primeiro risco
ou traço, um primevo olhar sobre a forma e os objectos, fruto de uma revelação
interior.
"Suporte"Agnes Juten (2015) |
Agnes Juten vai, no entanto, deleitando-se
com as pequenas narrativas que outros seres fazem acerca destes objectos
artísticos depois de usados em exposições, muito embora para si tenham o condão
de ser duradouros, dado o apego e pertença que ainda hoje por estes manifesta,
tem consciência do carácter efémero e volátil que estes simbolizam para o
público espectador. Ironiza, inclusive, com a necessidade alheia de utilizar as
suas esculturas para representar qualquer situação ou objecto do mundo real. Agnès
Juten sabe que ali está a representação do seu próprio mundo, o seu pensamento,
o escultórico gesto que vibra com o desenrolar do tempo e da vida (quase meio
século dedicada à escultura e ao desenho). E o que fazer dessa necessidade
permanente em “satisfazer” o desafio de criar imagens, representações,
significados, sem pensar na utilidade da arte?
Na verdade, as esculturas de Agnes Juten
respiram sobriedade, leveza formal, assentam no pendor criativo e na ilustração
dos vários estados de alma que percorrem qualquer ser pensante. São esculturas
que dão trabalho ao pensar, à estranheza que convida e cultiva a introspecção, que imploram à interioridade e ao recolhimento.
Do mesmo modo, os
seus desenhos evocam simples gestos, movimentos, cruzamentos, clausura, os nós
e os laços que que estabelecemos enquanto o silêncio vai esculpindo a “persona”
de que somos feitos. Estamos, portanto, perante uma sensibilidade inquieta, inabitual
modo sereno de nos fazer cogitar, essa curiosidade permanente pelos opostos
existenciais. Que luzes ou sombras, que caos ou o mundo harmonioso nos sustenta
este equilíbrio que julgamos habitar? Dessa hospitaleira resposta aqui fica o
convite ao desassossego formal, à estranheza
e, essencialmente, ao prazer de poder ver novamente os seus trabalhos
expostos. Inquietemo-nos.