sábado, 2 de agosto de 2014

Filmes d´Estio

Filme de Margarethe von Trotta
       Todos os dias conhecemos gente assim: incapazes de pensar criticamente ou analisar o que lhes mandam fazer, limitam-se a receber e a executar ordens que lhes ditam e, tal como Pilatos, lavam as mãos das consequências dos seus actos. Como funcionários exemplares, executam com eficácia as ordenações que lhes chegam de cima - “sem levantar muito cabelo”- como se costuma dizer. 
       “Hannah Arendt”, o mais recente filme de Margarette von Trotta, está dentro do registo dos filmes biográficos, retratando neste caso o pós-guerra e o pensamento da filósofa judia que dá titulo ao filme. A película começa com a captura de Eichmann pelo estado de Israel e o seu posterior julgamento. Hannah Arendt é incumbida de reportar as incidências do julgamento para o New Yorker. O filme acompanha este processo de escrita e a recepção do artigo por parte da comunidade intelectual judaica e não só. Pensar o horror, a banalização do mal, foi a incumbência de uma autora que não teve medo do isolamento nem da rejeição dos seus pares. Um filme que pensa o mal e os seus burocratas.

Avenida Marginal

Seriam quatro e a madrugada
possuída de silêncio
à míngua da luz  na cidade costeira
aproximação à escuridão das areias
e constatar de perto o berço das algas e a penedia.

Seriam quatro e a neblina
amigos como canções febris
à beira mar no nostálgico Agosto
o tempo desperdiçado, abalo e energia
ou a leve brisa das gaivotas que migram sem destino
ondas que nas rochas desabridas batem
este odor imortal da maresia.

Ontem, escrito numa parede da cidade

            "As minhas insónias estão carregadas de espuma e de salitre."