"A minha preferência por Nino Rota como compositor deriva do facto de ele
me parecer muito próximo dos meus temas e das minhas histórias e por
trabalharmos muito bem em conjunto. Não me refiro ao resultado, mas à forma
como trabalhamos. Não me compete sugerir-lhe ideias musicais, porque não sou
compositor. No entanto, como tenho ideias muito claras sobre o filme que estou
a fazer, incluindo os pormenores, o meu trabalho com Rota faz-se exactamente da
mesma maneira que a elaboração do argumento. Fico ao pé do piano a que Nino
está sentado e digo-lhe exactamente o que quero. Claro que não lhe dito os
temas, só posso guiá-lo e dizer-lhe aquilo que estava à procura. Na minha
opinião, Rota é o mais humilde dos compositores que trabalham no cinema, porque
compõe uma música extremamente funcional. Não tem a presunção de muitos outros
compositores, que querem que as suas músicas sejam ouvidas nos filmes. Sabe que
a música de filmes é uma coisa marginal e secundária, que não pode ocupar o
primeiro plano, excepto em raríssimos momentos, e que, em geral, se deve
contentar em apoiar o resto do que vai acontecendo."
in “Fellini conta Fellini”,
Livraria Bertrand, Tradução de Maria Dulce e Salvato Teles Meneses, 1974.