quarta-feira, 9 de março de 2016

Fellini e Nino Rota

"A minha preferência por Nino Rota como compositor deriva do facto de ele me parecer muito próximo dos meus temas e das minhas histórias e por trabalharmos muito bem em conjunto. Não me refiro ao resultado, mas à forma como trabalhamos. Não me compete sugerir-lhe ideias musicais, porque não sou compositor. No entanto, como tenho ideias muito claras sobre o filme que estou a fazer, incluindo os pormenores, o meu trabalho com Rota faz-se exactamente da mesma maneira que a elaboração do argumento. Fico ao pé do piano a que Nino está sentado e digo-lhe exactamente o que quero. Claro que não lhe dito os temas, só posso guiá-lo e dizer-lhe aquilo que estava à procura. Na minha opinião, Rota é o mais humilde dos compositores que trabalham no cinema, porque compõe uma música extremamente funcional. Não tem a presunção de muitos outros compositores, que querem que as suas músicas sejam ouvidas nos filmes. Sabe que a música de filmes é uma coisa marginal e secundária, que não pode ocupar o primeiro plano, excepto em raríssimos momentos, e que, em geral, se deve contentar em apoiar o resto do que vai acontecendo." 


in “Fellini conta Fellini”, Livraria Bertrand, Tradução de Maria Dulce e Salvato Teles Meneses, 1974.

O Declínio do Cinema

         
"Amarcord" de Federico Fellini
"
Sou muito pessimista porque creio que o público já não tem simpatia pelo grande ecran. Mas não quero continuar a repetir as razões que seriam a causa da desafeição do público: a televisão, o medo de sair à noite, as repugnantes condições do cinema em Itália. O público perdeu o hábito de ir ver um filme porque o cinema perdeu o seu fascínio, o seu carisma hipnótico, a autoridade que outrora teve. A autoridade que outrora teve para todos nós – a de um sonho que sonhávamos de olhos abertos – desapareceu. Será possível que 1000 pessoas possam reunir-se às escuras e fazer a experiência do sonho dirigido por um único indivíduo?"

Federico Fellini - "Sou Um Grande Mentiroso - Uma Conversa com Damian   Pettigrew",Tradução de Miguel Serras Pereira, Fim de Século, 2008.

Roubo de Arte

       "E o roubo de arte é coisa séria: o quarto maior mercado negro mundial, segundo a revista Foreign Policy, depois da droga, da lavagem de dinheiro. E das armas."

João Pereira Coutinho, in Avenida Paulista, Quasi Edições (2005/2007)