“October/
And the trees are stripped bare/ Of all they wear/What do I care/ October/ And
kingdoms rise/And kingdoms fall/ But you go on...and on...”
Paul
Hewson, U2
Outubro despede-se e todos
sabemos que qualquer adeus pode ser triste sobretudo quando uma das partes faz
questão de lamentar a partida ainda que sem lamúria ou sinais de pranto. O
décimo mês termina agora, comprovando-se que musicalmente ainda mexe. Sem ter
sido convulso, tornou-se, à medida que o tempo meteorológico se foi deteriorando,
algo vivo e secreto. Desse tempo fluido ocorre verificar este concertado de
dias em que o sangue escorreu de forma perpétua e colorida, à semelhança do que
diria Cézanne. Ouvir dizer no final de “Ilusão”, de Sofia Marques, o mestre das
artes de palco, Luís Miguel Cintra, que a realizadora nada sabia de filmes nem
de filmar quando começou e que agora realizou um documentário carregado de belos
enquadramentos e planos reveladores e perfeitos. E ainda assistirmos ao
partilhar desta insatisfação dum homem que viveu do palco, alimentou-se da vida
dos textos e que tanto nos pode ainda ensinar. E dois dias depois, naquele mesmo
palco, uma italiana, Giovanna Barbanti, a dialogar com os sons e o silêncio, naquele
barroco dilacerante ou jogando com loops sincopados de temas contemporâneos, delicados, possuídos de
exaltação e sentido. Fica aqui essa certeza mesmo quando a matemática dos
tempos exige contenção. E logo de seguida a ousadia da Orquestra AngraJazz, com mais de vinte de músicos, homenagear Duke Ellington num registo
inédito nos palcos nacionais. E como se não bastasse, a democracia das palavras
em período crescente com a ilha literária a trazer dois novos livros – “Os
Ossos Dentro da Cinza”, a poesia de Emanuel Jorge Botelho e “A Brecha”, um romance de João Pedro
Porto. E Novembro que não tarda a entrar…