quinta-feira, 3 de julho de 2014

“Pedra-Ilha” de Baltasar Pinheiro no MAH


       Quem foi que disse que uma pedra não "perturba" a nossa visão do mundo? Quem é que nos assegura que a energia que dela erradia não põe em causa este frágil equilíbrio ilhéu em que assenta a nossa existência? As respostas poderão estar na Sala Dacosta do Museu de Angra do Heroísmo onde estará patente, até Outubro, uma mostra de peças escultóricas de Baltazar Pinheiro. O autor das peças é terceirense, tem trinta e oito anos de idade, começou por tirar um curso de cerâmica na Casa do Sal, orientado por Renato Costa e Silva, frequentado durante muito tempo o atelier deste artista plástico. O escultor vive actualmente na Suécia, em Uppsala, estudou escultura no Gothenburg  Art College daquele país escandinavo e é lá que trabalha. O título escolhido para esta mostra foi “Pedra-Ilha” apontando assim para uma familiaridade e pertença dos materiais expostos com o espaço envolvente. O conjunto das peças exposto revela uma escultura com alma e criatividade próprias de quem pretendeu mergulhar nas raízes e aprofundar o berço que cada ilhéu transporta. É, portanto, uma escultura de afectos, memórias, força telúrica, exaltação artística de quem faz das formas vida e dedicação. A exposição transporta-nos para um mundo de revelação, tornando esse invisível que nos habita parte do mundo que é nosso. De origem vulcânica e fruto de laboriosa celebração da energia, as peças contém elementos naturais e culturais da sua ilha de nascimento. Desta feita, quem vê esta exposição interroga-se na razão do porquê da arte poder mudar e perturbar, exaltar a cada instante a beleza das coisas que se encontram em nosso redor. Destaque-se assim as peças “Anoitecer” e “Amanhecer” que reflectem o encontro com o tempo, esse testemunho individual da nossa relação com a visão fragmentada da mutação, da vida que nos escapa e segue a “inevitável marcha do tempo”. O que dizer ainda de “Celebração” ou “Pequeno monumento às memórias que se perdem”? Baltazar Pinheiro procura assim a comunhão das emoções com os materiais vulcânicos, tentando expressá-los e harmonizá-los com o que de mais táctil e depurado existe nos nossos gestos. “Pedra-Ilha” é, sem dúvida, um encontro feliz pois tal como o autor escreve no catálogo da exposição: “Tenho a necessidade de tornar visível o que sinto que existe, mas que nem sempre se compreende. A minha intenção não é acrescentar nada à natureza, mas sim conhecê-la como um participante activo, não tentando imitá-la, mas querendo que a sua energia seja o alfa e o ómega da obra de arte”. É possível, na arte de Baltasar Pinheiro tudo é possível. 

A Ilha em Frente

Fotografia de Eduardo Brito

Ontem, escrito numa pareda da cidade

- O que é o amor? 
-É um ofício diário de ociosos.