Quem foi que
disse que uma pedra não "perturba" a nossa visão do mundo? Quem é que nos assegura
que a energia que dela erradia não põe em causa este frágil equilíbrio ilhéu em
que assenta a nossa existência? As respostas poderão estar na Sala Dacosta do
Museu de Angra do Heroísmo onde estará patente, até Outubro, uma mostra de
peças escultóricas de Baltazar Pinheiro. O autor das peças é terceirense, tem
trinta e oito anos de idade, começou por tirar um curso de cerâmica na Casa do
Sal, orientado por Renato Costa e Silva, frequentado durante muito tempo o
atelier deste artista plástico. O escultor vive actualmente na Suécia, em
Uppsala, estudou escultura no Gothenburg Art College daquele país escandinavo e é lá
que trabalha. O título escolhido para esta mostra foi “Pedra-Ilha” apontando
assim para uma familiaridade e pertença dos materiais expostos com o espaço
envolvente. O conjunto das peças exposto revela uma escultura com alma e
criatividade próprias de quem pretendeu mergulhar nas raízes e aprofundar o
berço que cada ilhéu transporta. É, portanto, uma escultura de afectos,
memórias, força telúrica, exaltação artística de quem faz das formas vida e
dedicação. A exposição transporta-nos para um mundo de revelação, tornando esse
invisível que nos habita parte do mundo que é nosso. De origem vulcânica e fruto de laboriosa celebração da energia, as peças contém elementos
naturais e culturais da sua ilha de nascimento. Desta feita, quem vê esta
exposição interroga-se na razão do porquê da arte poder mudar e perturbar, exaltar
a cada instante a beleza das coisas que se encontram em nosso redor. Destaque-se assim as peças
“Anoitecer” e “Amanhecer” que reflectem o encontro com o tempo, esse testemunho
individual da nossa relação com a visão fragmentada da mutação, da vida que nos
escapa e segue a “inevitável marcha do tempo”. O que dizer ainda de “Celebração” ou
“Pequeno monumento às memórias que se perdem”? Baltazar Pinheiro procura assim
a comunhão das emoções com os materiais vulcânicos, tentando expressá-los e
harmonizá-los com o que de mais táctil e depurado existe nos nossos gestos. “Pedra-Ilha”
é, sem dúvida, um encontro feliz pois tal como o autor escreve no catálogo da exposição: “Tenho a necessidade de tornar visível o que
sinto que existe, mas que nem sempre se compreende. A minha intenção não é
acrescentar nada à natureza, mas sim conhecê-la como um participante activo,
não tentando imitá-la, mas querendo que a sua energia seja o alfa e o ómega da
obra de arte”. É possível, na arte de Baltasar Pinheiro tudo é possível.
Grande Balta!
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